ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Apenas el sol: um encontro de dois documentaristas no Chaco paraguaio. |
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Autor | Andrea C. Scansani |
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Resumo Expandido | O mais recente longa-metragem de Aramí Ullón, Apenas el sol, estreou na sessão oficial de abertura do prestigiado festival de documentários de Amsterdam (IFDA) em 2020 e, ao longo destes dois árduos anos de pandemia, foi selecionado para integrar a programação de quase cinquenta festivais, angariando mais de quinze prêmios. Antes de Apenas el sol, a cineasta já havia percorrido um circuito especial de exibições com seu primeiro longa-metragem El tiempo nublado (2014), que estreou no festival internacional de Nyon, Visions du réel, ganhando o prêmio “Novo olhar” (Regard neuf). É claro que uma cineasta e seus filmes são relevantes não apenas por suas conquistas públicas - que neste caso são muitas -, mas também pelo caminho que abrem a partir de suas próprias questões e de seus modos de fazer cinema. Em El tiempo nublado, por exemplo, Arami Ullón constrói "um filme muito pessoal sobre uma questão universal que todos devemos enfrentar: o que faremos com nossos pais, quando estiverem velhos e doentes?" O tema abordado coloca a cineasta no centro do quadro como uma filha que compartilha seus sentimentos com uma mãe que sofre de Parkinson e epilepsia e que necessita de cuidados cada vez mais intensivos. Em Apenas el sol, o protagonista, Mateo Sobode Chiqueno, “atravessa o árido e desolado Chaco paraguaio registrando as histórias, canções e testemunhos de outros Ayoreo que, como ele, foram despojados da selva, perdendo seu território ancestral, seus meios de subsistência , suas crenças e sua casa”. Mateo é o que poderíamos chamar de um colecionador de palavras e sons, que em fitas cassete, desde 1979, grava conversas, canções, depoimentos de seus parentes Ayoreo, numa espécie de auto-etnografia oral. Em seus registros, além de preservar parte da memória de seu povo, coloca em perspectiva e torna visível as inconsistências, os abismos, os paradoxos de sua existência e a resistência dos Ayoreo no norte do Chaco paraguaio. Arami Ullón - abordando as complexidades dessa história que se repete em tantos territórios latino-americanos há mais de meio milênio - leva sete anos para construir, ou melhor, para desconstruir uma série de certezas estereotipadas sobre as realidades que decide documentar . Dessa forma, acreditamos que a cineasta paraguaia nos coloca no centro de algumas das questões muito caras ao documentário: como filmar o outro? Aquele que não faz parte da minha realidade imediata, mas ainda faz parte de mim. Aquele que me toca, me comove, mas que também acaba sofrendo com meu toque, ou seja, com o toque do cinema, o poder da câmera, os abusos que a imagem pode carregar e proliferar. O que é ser uma cineasta? Uma documentarista? Que dúvidas Arami Ullón teve que superar (ou pelo menos olhar com atenção) durante o percurso da construção do filme? Como criar junto a outro documentarista (Mateo) que usa suas fitas cassete e seu gravador portátil como instrumentos cuidados como seus bens mais preciosos? Essas e outras perguntas constituem a base da proposta desenvolvida a partir de uma entrevista realizada com a cineasta em fevereiro de 2022. |
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Bibliografia | BESSIRE, Lucas."Glimpses of Emergence in the Ayoreo Video Project" in Visual Anthropology Review 33, vol. 2, 2017, p. 119 - 129. |