ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Veias, serpentes e rios: a construção de mundo em Pantanal |
|
Autor | Lucas Waltenberg |
|
Resumo Expandido | Lançada em 2022, a novela Pantanal, exibida originalmente em 1990 pela Rede Manchete, e agora pela Globo, tem se firmado como sucesso de audiência e bate recordes no Globoplay, segundo relatórios da emissora (VAQUER, 2022). Com paisagens exuberantes, personagens icônicos do nosso imaginário e contextos políticos, econômicos e socioculturais que dão corpo à história, Pantanal é um exercício de construção de mundos. Neste artigo, a noção de construção de mundos (WOLF, 2012; VANDERMEER, 2013; KENNEDY, 2016; BONI, 2017; LOPES, 2020) é entendida não somente como uma questão estrutural que ajuda a garantir a coesão de uma narrativa, mas, principalmente, como ferramenta de análise que se debruça sobre os elementos e recursos utilizados para formar mundos em histórias. Assim, recorremos também à relação entre narrativa e ambiente, que estabelece limites e leis internas de probabilidade para as histórias, uma vez que o mundo criado é também um limitador de escolhas no que diz respeito às possibilidades da história contada (MCKEE, 2006). Também consideramos a reflexão de VanderMeer (2013, p. 220–222) sobre o que faz um cenário (setting, em inglês, tradução nossa) ser bem construído. De acordo com VanderMeer, para chegar nesse estágio, ele deve ter como características “lógica coerente e consistente”, “uso estratégico dos detalhes”, “profundidade e amplidão” e, entre outros atributos, materializar a ideia de que o mundo impacta a vida dos personagens, ajudando, inclusive, a construir suas motivações e conflitos por conta de contextos históricos e sociais. Para dar corpo à análise, destacamos algumas das estruturas (WOLF, 2012) na construção de mundos como centrais para o escopo da investigação, a partir de perguntas como: que idioma é falado e como ele é falado?, quais e como são os lugares onde os eventos da história ocorrem?, quem são as pessoas que habitam esse lugar e como são as relações entre elas?, como a mitologia influencia os personagens? e quais são as leis (sobre)naturais que atuam neste mundo?. A análise tem o objetivo de investigar, primeiro, o que faz o mundo de Pantanal singular a partir dos elementos que o constituem e, em segundo, de que forma esses elementos são combinados. Fazemos isso para entender: como se dá lógica interna de funcionamento do mundo construído em Pantanal, especialmente no que diz respeito à sua consistência e coerência? E como os elementos desse mundo inventado, ficcional, dialogam com elementos do nosso mundo real? Pantanal teve “a maior campanha de novela das 21h já feita na história do canal” de acordo com Leonora Bardini, diretora de programação e marketing da TV Globo, em entrevista para o veículo Meio&Mensagem (SACCHITIELLO, 2022). Isso, acreditamos, explica parte do sucesso da produção. Entretanto, aventamos também como hipótese que o mundo construído na trama é algo a se destacar nesse sucesso, uma vez que aponta para a lógica da construção de universos, como detalha Jenkins (2008, p. 158), ao dizer que “[c]ada vez mais, as narrativas estão se tornando a arte da construção de universos, à medida que os artistas criam ambientes atraentes que não podem ser completamente explorados ou esgotados em uma única obra, ou mesmo uma única mídia”. Ainda que Pantanal não possua (pelo menos, até o momento) os desdobramentos transmidiáticos de grandes franquias cinematográficas ou televisivas, arriscamo-nos a dizer que o mundo de Pantanal não se esgota na exibição da novela, nem é totalmente explorado por ela. Ao nos apresentar um mundo rico, complexo, que traça paralelos com o nosso mundo real, Pantanal oferece portas de entrada para tópicos de conversa, debates culturais e momentos de diversão que ultrapassam a obra. E, talvez, sejam nessas conversas conduzidas pela audiência, por veículos de mídia e representantes da novela, como os próprios atores, que o mundo de Pantanal é mais bem-sucedido em sua construção. |
|
Bibliografia | BONI, Marta (Org.). World Building: Transmedia, fans, industries. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2017 |