ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A construção do narrador na trilogia do luto, de Cristiano Burlan |
|
Autor | Luís Fellipe dos Santos |
|
Resumo Expandido | Este trabalho é fruto da pesquisa que desenvolvo em meu Mestrado e que está em andamento. O trabalho partirá da noção de ensaísmo dentro do campo do cinema documental, que têm se mostrado frutífero, embora não se tenha um acordo generalizado sobre o que pode ser um ensaio cinematográfico. A noção de ensaio usada no campo cinematográfico parte da literatura e se concretiza a partir de reflexões feitas, como escreve Michel de Montaigne, que conferiu ao ensaio algumas das suas principais características, como a reflexividade e a ausência de regras. Seria o espaço em que um pensamento não iria se dobrar a um discurso pronto. Weinrichter (2007, p.51) diz que “A mais profunda lei formal do ensaio é a heresia”. Dessa forma, deve-se subverter o que é tratado como certo e verdade a ser seguida. Não há uma definição exata para classificar o que seria um filme ensaístico. Seguindo essa linha de raciocínio, Weinrichter (2007), ao tentar pensar em definição de filme ensaio, diz que: Digamos que uma obra cinematográfica se torne um ensaio quando não propõe uma mera representação do mundo histórico, mas uma reflexão sobre si mesmo, privilegia a subjetividade do pensamento, tem uma voz reconhecível e acaba criando a sua própria forma. (WEINRICHTER, 2007, p.51) Com isso, podemos entender que esta forma seria advinda da ideia de ir contra a maneira clássica de se fazer documentários. Como pontua Lins (2007), “são filmes em que essa “forma” surge como máquina de pensamento, meio de uma reflexão sobre imagem e o cinema, que imprime rupturas, resgata continuidades, traduz experiências” (LINS, 2007, p.9). Ao estabelecer uma leitura sobre alguns documentários ensaísticos, algo interessante a se notar é o conceito trazido por Jean-Claude Bernardet, ao começar a questionar esse narrador, em “Novos Rumos do documentário brasileiro?”, que foi resgatado por Lins e Mesquita (2008), no qual o autor, ao analisar filmes do tipo documentários de busca, 33 e Um passaporte Húngaro, cunha o termo “pessoa-personagem”, ao se questionar sobre como aparecem os realizadores nessas obras. Para ele, não seriam apenas filmes que usam a primeira pessoa, e sim filmes em que o cineasta se mescla com um personagem que é o protagonista. Como pontuou o crítico: “Essas pessoas-personagens obedecem a uma construção dramática. Os personagens têm objetivos, enfrentam obstáculos, alcançam seus objetivos ou não, exatamente como nos filmes de ficção.” Dessa forma, as obras que constituem a corpora da pesquisa são os documentários ensaísticos: Construção (2004), Elegia de um crime (2018) e Mataram meu irmão (2013), de Cristiano Burlan. Em Mataram meu irmão (2013) e Elegia de um crime (2018), filmes que fazem parte da chamada Trilogia do luto, acompanhamos as histórias que perpassaram a vida do realizador, o assassinato de seu irmão e o assassinato de sua mãe, ambos em momentos diferentes. Em Mataram meu irmão (2013), o realizador aparece e narra eventualmente, Em Elegia de um crime (2018), o realizador se “põe” mais inteiro no filme, fazendo-se presente, envolvendo-se ainda mais na trama. Já em Construção (2004), primeiro filme de projeção do realizador no cenário audiovisual brasileiro, somos apresentados a um filme de cunho mais observativo, em que só há uma única fala do realizador. Essas escolhas foram feitas a fim de se gerar dados que contribuam para o entendimento do narrador. Assim, pretende-se entender a relação estética e literária existente e que configura a construção desse narrador. Dessa forma, é viável que se estabeleça uma análise cuja ideia principal é entender a utilização desse conceito nas práticas de cinema contemporâneo, entendendo as transformações de uso dos recursos estilísticos que dizem respeito ao narrador como reflexo das demandas sociais, buscando entender o papel das artes e como se apresentam dentro dessa lógica. |
|
Bibliografia | BENJAMIN, Walter. O narrador, considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Obras Escolhidas I:. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. p. 197-221. |