ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Desmontando Imagens, Recriando Imaginários |
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Autor | Samantha Ribeiro de Oliveira |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende tecer uma rede de cruzamentos entre os filmes “Looking for Langston” (1989), do vídeo-artista britânico Isaac Julien, e “Até o fim” (2019), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, realizadores da Rosza Filmes, egressos do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, tendo como fio condutor a ideia de contra estratégia para subversão do processo de representação, proposto por Stuart Hall no texto “O espetáculo do Outro”, em que o autor se debruça fundamentalmente sobre a questão do estereótipo. (HALL, 2016, p. 211). “Looking for Langston” é uma recriação lírica do ambiente íntimo e privado de Langston Hughes, poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e ensaísta nascido nos EUA em 1902 e morto em 1967. Ele e seus amigos, artistas e escritores negros, fizeram parte do movimento conhecido como o “renascimento do Harlem”, durante a década de 1920. Dirigido por Isaac Julien, quando ainda era membro do “Sankofa Film and Video Collective”, o média-metragem foi rodado em 1989, no auge da epidemia da AIDS, e é considerado um marco do “New Queer Cinema”, pela exploração, em sua expressão artística, da natureza do desejo e da reciprocidade do olhar homoafetivo. O filme também é uma obra fulcral para os estudos afro-americanos, ininterruptamente discutido em universidades, faculdades e escolas de arte do mundo todo e, notadamente, nos EUA, há mais 30 anos. Um fotograma do filme “Looking for Langston” é utilizado por Stuart Hall como exemplo de contestação do regime racializado de representação, uma espécie de contranarrativa que pretende desmontar as imagens a partir de seu interior, por dentro do processo mesmo da representação. O fotograma em questão mostra um homem negro nu, de costas sendo observado por outro homem negro elegantemente vestido, de smoking e gravata borboleta, em um descampado. Hall serve-se, então, desta imagem para postular sobre a possibilidade de, “através do olhar representação”, fazer o estereótipo trabalhar contra si mesmo. Homônimo da canção de Arnaldo Antunes e Cézar Mendes, o baiano “Até o fim” é uma narrativa negra, que põe em cena corpos de mulheres exuberantes, donas da sua própria história. O filme conta a história de quatro irmãs que se reencontram depois de muitos anos, em torno do agravamento do estado de saúde do pai, cujo desenlace é esperado a qualquer momento. Cada uma das personagens, ao entrar em cena, atualiza e reconfigura o papel das demais. Reunidas no restaurante da irmã mais velha, Geralda, a única que jamais abandonou sua cidade natal, Rose, Bel e Vilmar conversam sobre suas vidas com uma intimidade reveladora, que se desdobra em assuntos secretos, polêmicos e muito dolorosos, abordados de forma poética e delicada. São, desta forma, a inversão do estereótipo, da tentativa de fixar o sentido historicamente dado à mulher negra no imaginário brasileiro. O ritmo, as nuances, as cores, os sons, toda a energia do filme vem do Recôncavo Baiano e aponta para as possibilidades de recriação da imagem do Negro na cinematografia nacional. Trauma e senso de comunidade se entrelaçam, com o uso potente e maduro da imaginação como ferramenta que conduz autores e personagens na direção da ampliação das fronteiras de suas experiências, pessoais e coletivas. “Até o fim” atinge em cheio a emoção do espectador e convoca à reflexão sobre a produção da auto-imagem do Negro, pela via do afeto, na qual “o amor e a união emergem como uma tarefa política”, tanto para reparar a história individual e coletiva de perda e isolamento, quanto para imaginar novos futuros. (KILOMBA, 2019, p. 221-222) |
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Bibliografia | GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. |