ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Ô Mainha, ó: as Representações do Feminino Negro no Filme "Ó Paí, Ó" |
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Autor | Cinthia Martins Xavier de Lima |
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Resumo Expandido | Mergulhado no sotaque baiano, a expressão “olha para aí, ó” dá nome ao filme “Ó Paí, Ó” (2007). O jogo de palavras com “praí”, “pai” e “mãe” sugere um olhar mais atento para as mulheres presentes na obra audiovisual, que conta com um elenco feminino diverso e diferentes trajetórias de mulheres sendo narradas de forma sátira e dramática. Além de sua importante contribuição para o cinema nacional, “Ó Paí, Ó” destaca-se como objeto de estudo pela pluralidade de representações femininas em tela. Inspirado na peça homônima do Bando de Teatro Olodum e adaptado para o cinema por Monique Gardenberg, a celebração do carnaval na Bahia não é suficiente para resumir o enredo filme. Ao acompanhar Dona Joana e Mãe Raimunda e encontro das religiões de matriz africana com o evangelismo, ver as andanças de Maria com uma barriga prestes a dar à luz ou Rosa esbanjando sensualidade nas pinturas do Olodum, conhecemos as miudezas cotidianas da Bahia através da complexidade feminina e questões que interseccionam gênero, raça, classe, sexualidade e religião (AKOTIRENE, 2019; COLLINS, 2016). Em suma, “Ó Paí, Ó” tem o feminino intrínseco à narrativa. Apesar de Rock (Lázaro Ramos) ser o protagonista do filme que conta também com a participação de Boca (Wagner Moura), Reginaldo (Érico Brás) e Seu Jerônimo (Stênio Garcia), é para as representações femininas que direciono a análise. Carmen (Auristela Sá), Dona Joana (Luciana Souza), Maria (Valdinéia Soriano), Neuzão (Tânia Tôko), Psilene (Dira Paes), Rosa (Emanuelle Araújo) e Yolanda (Lyu Arisson) caminham ao centro da narrativa, com adendo ao fato de Yolanda ser uma personagem trans interpretada por um ator cis. Além delas, Lúcia (Edvana Carvalho), Baiana (Rejane Maia) e Mãe Raimunda (Cássia Vale) também fazem parte do elenco, pioneiro no cinema nacional por sua formação majoritariamente feminina e negra. Diferente de outros clássicos do cinema brasileiro (HOLANDA, 2017), é justamente a pluralidade de corpos femininos e seus conflitos internos e sociais que dão fio condutor ao filme. A começar por Dona Joana, proprietária do cortiço, decidir cortar a água do prédio e causar comoção entre seus moradores, ou seja, entre todos os personagens centrais. O bar da Neuzão é outro ponto de encontro recorrente, com Yolanda e Maria discutindo o adultério ali cometido, Psilene buscando abrigo após voltar de viagem e tantos outros momentos importantes para o filme serem contados. Na diáspora baiana, o negro é protagonista e as mulheres negras o “coração do conceito de interseccionalidade” (AKOTIRENE, 2019). Mas, para que suas narrativas estejam de fato alinhadas ao conceito de representatividade, Bell Hooks (2019) aponta que conhecer o olhar da espectadora negra passa a ser essencial. Investigar como são representadas no audiovisual pode ser um ponto de partida para conhecer também parte da realidade dessas mulheres, que usam a mídia para entrar em contato com a sua própria história ou ainda vislumbrar um futuro possível a partir da observação da vivência de outras mulheres negras. Dito isso, “Ó Paí, Ó” destaca-se por estar debruçado em narrativas femininas negras plurais, ambientadas em uma narrativa em que impulsiona suas decisões e diferenças. Os acontecimentos do filme coloca o espectador em contato com diferentes temáticas já vistas em outros produtos audiovisuais, como religiosidade (seja evangelismo ou candomblé), formas de relacionamento (namoro, casamento, adultério ou amizade), conjunções familiares (mãe solteira ou família nuclear), orientação sexual e identidade de gênero (casais héteros e homossexuais, lésbica e transexualidade) sendo representado por atrizes negras, o que gera identificação com as mais diversas vivências dessas personas. Assim, além de impulsionar diferentes histórias femininas, o leque representativo de mulheres negras no audiovisual brasileiro também é ampliado a partir da análise do filme. |
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Bibliografia | AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen Livros, 2019. |