ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | No museu e além: o Rio de Janeiro de "Subterrânea" |
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Autor | Guilherme Carréra Campos Leal |
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Resumo Expandido | As imagens do incêndio que ocorreu no Museu Nacional, no dia 2 de setembro de 2018, são impactantes. Viralizaram rapidamente na internet, ganharam extensa cobertura da mídia e vêm sendo objeto de atenção de artistas contemporâneos. Interessados em refletir sobre o fato, eles mobilizam estratégias diversas para dar conta do episódio por meio de diferentes linguagens, sendo a audiovisual o foco deste estudo. Fazem isso articulando questões relativas ao museu, atravessadas pelos campos da memória e da ruína. A videoarte “The Clopen Door” (Thiago Rocha Pitta, 2020), a animação “Kanau'kyba” (Gustavo Caboco, 2021) e as apresentações multimídias de Tom Zé no Festival Multiplicidade (2021) e de Emicida no Prêmio Multishow (2021) são exemplos de registros audiovisuais que dialogam com o incêndio. Nesta comunicação, jogamos luz sobre o longa-metragem “Subterrânea”, dirigido por Pedro Urano e lançado em 2021 na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme abre com imagens do fogo consumindo a edificação histórica – uma maneira de apresentar o tom apocalíptico que será adotado pela trama. Nela, uma professora de geologia e um estudante, que são também tia e sobrinho, se sentem atraídos a desvendar o mistério de símbolos encontrados em pedras espalhadas pela região do antigo Morro do Castelo, demolido nos anos 1920. Além do Museu Nacional e do Morro do Castelo, a implosão do Elevado da Perimetral durante as obras para os Jogos Olímpicos de 2016 também ganha menção no filme. Entre o solo e o subsolo da cidade, o roteiro de João Paulo Cuenca vai do documentário à ficção científica para explorar o ímpeto destrutivo entranhado na paisagem carioca. Nesse sentido, é o museu em chamas o abre-alas tanto do filme quanto do Rio de Janeiro a ser enquadrado na tela. A pesquisadora Giselle Beiguelman reflete sobre a imagem do museu em chamas em um dos ensaios publicados em “Memória da Amnésia: Políticas do Esquecimento”. Ela defende que “o incêndio do Museu Nacional revela muito de como lidamos, no Brasil, com o nosso patrimônio” (2019, p.217). Em artigo escrito com Nathalia Lavigne, Beiguelman afirma que “o que parece ter sobrevivido é um museu só de paredes e um arquivo fantasmagórico de imagens digitais circulando sem um referente que já não existe” (2021, p.3), aludindo a postagens nas redes com a #museunacionalvive. Esse museu que não existe mais, ou que não existirá como um dia existira, parece representar o modus operandi da própria cidade no qual ele está inscrito. “Subterrânea” trabalha essa percepção ao construir, a partir do incêndio, uma imagem para a capital fluminense. Embora fincado no tempo presente, o filme se vale de um entrecruzamento de tempos passados, em um entendimento da História no sentido atribuído por Walter Benjamin (1968). A barbárie que acompanha toda civilização se deixa ver aqui nas remoções, implosões e destruições que marcam o Rio de Janeiro. O progresso que empilha destroços sobre destroços expõe o fracasso do projeto moderno, abordado por Julia Hell e Andreas Schönle (2010) através da noção de ruínas da modernidade. O interesse pelo que passou certamente não é exclusividade do filme – a ideia de retorno ao passado se tornou uma das principais características da cultura contemporânea global, largamente investigada pelo teórico Andreas Huyssen (2010). Na América Latina, a ensaísta Beatriz Sarlo (2007) enfatiza o trabalho da memória não só na rememoração, mas na reelaboração da História. Esta comunicação pretende discutir as estratégias empregadas no filme, para fazer vir à superfície uma História ainda subterrânea. |
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Bibliografia | Beiguelman, G. (2019). Memória da amnésia: políticas do esquecimento. São Paulo: Edições Sesc. |