ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Ocupação Sonora – enveredando com territórios ocupados |
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Autor | camila machado garcia de lima |
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Resumo Expandido | Esta pesquisa investiga sonoridades em do Movimento Sem Terra no Distrito Federal e visa realizar uma cartografia sonora do espaço transformado pela ocupação. Parte-se do pressuposto de que as sonoridades trazidas e propostas pela atuação das camponesas e camponeses em movimento na luta pela terra transformam os espaços e servem de material importante no imaginário e na formação das comunidades e territórios. Em diálogo com as noções de acustemologia (FELD, 2012), sonosfera (SLOTERDIJK, 2016), cosmoacústica (TUGNY, 2015) e sonário (LIMA, 2019), esse trajeto poético e intuitivo se propõe a realizar um acervo sonoro que planta as seguintes perguntas: já que as sonoridades moldam o imaginário, é possível identificá-las e fazer uma cartografia sonora, partindo do chão, do povo que o habita e das estradas, rumos e caminhos tomados pelo Movimento? Murray Schafer (SCHAFER, 1997) nos oferece o entendimento da escuta como “algo socialmente construído, que necessita ser pensado como um ato político de produção e de delimitações de territórios ” (OBICI, 2006, p. 55). Essa tríade de noções que evolvem a escuta, política e território será especialmente importante para costurar a linha entre os territórios pesquisados, a ocupação da terra e dos sons pelo MST. Schafer, de acordo com a leitura de Obici, “nos permite entender que o espaço comum precisa ser pensado também em questões acústicas. Pensemos a escuta como um bem comum, que assim como uma série de outros como a atenção, a memória, a visão, o pensamento e as sensações, hoje postas em perigo, e não simplesmente os recursos naturais, como a água, terra, ar, fauna e flora, ao contrário do que alertam os ecologistas.” (OBICI, 2006, pg 55) Os territórios da pesquisa fazem parte da bacia do São Francisco. O trânsito, tanto pelos rios da bacia, quanto por estradas e veredas sempre carregaram consigo os corpos e as práticas acústicas das pessoas que caminhavam, navegavam e ocupavam os solos dos territórios do sertão do país. Sonoridades que muitas vezes foram silenciadas, ou abafadas, ou até ressonavam, mas restritas a contextos locais e comunitários (TABORDA, 2021). Nos interessa aqui dialogar com essas sonoridades e identificar o quanto o campo, os rios e as ocupações/assentamentos podem ser a própria epistemologia de onde podemos apreender e expor, na criação de acervo, cartografias e obras artísticas. O que podemos aprender desses rios? O que os rios trouxeram para esse território, o que veio nas águas e o que veio no ar e o que veio na bagagem sonora das pessoas que transitam? O que se transformou no território ao encontrar sons que vieram, com costumes cotidianos que são incorporados ao novo território? Como lidar com as novas sonoridades de uma terra ocupada e que antes havia sido devastada pela monocultura que cala a diversidade sonora? Como a proposta do Movimento de reflorestar e de criar agroflorestas recriam a sonoridade dos territórios? Assim, nessa transformação, o Movimento devolve ao campo sua estrutura polifônica, onde, por conta do desmatamento e da monocultura do latifúndio, chegou a imperar um vazio frequencial, rítmico, dinâmico e espacial sonoro. Segundo Taborda (2014), não existe um vazio de frequência espectral numa floresta saudável, num território que permite a existência da diversidade e da polifonia, e o movimento de camponeses e camponesas ao ocupar os latifúndios partem para a reconstrução ou recriação dos variados elementos do espectro sonoro que aquele território um dia teve. Essa pesquisa pretende trazer à superfície para escutá-los, cartografáveis por meio de apostas nos movimentos que fluem em territórios ocupados pelo MST, por rios, veredas e estradas e que trazem nas bagagens e nas plantações sonoridades que se encontram nesse espaço comum, sonoridades essas definitivas na construção do imaginário cultural brasileiro. |
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Bibliografia | FELD, Steven. Sound and Sentiment: birds, weeping, poetics and song in Kaluli expression. Durhan & London, Duke University Press, 2012. |