ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Autoencenações da juventude e o espaço social: MLB-MG e Caranguejo-PE |
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Autor | Rafael de Amorim Albuquerque e Mello |
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Resumo Expandido | A pesquisa parte de experiências audiovisuais envolvendo o Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, da comunidade de mesmo nome em Recife, e o MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) de Minas Gerais. Por meio de oficinas de realização fílmica, a juventude aparece de forma decisiva na construção de uma autoimagem coletiva em meio a situações de disputas, que no caso desses filmes envolve o direito à moradia, ameaçado pelo avanço da especulação imobiliária nos respectivos locais. Buscamos articular os espaços sociais e autoencenações valorizando gestos, movimentos, nuances e posturas da juventude, de modo que a visionagem crítica das cenas em conjunto, organizadas em pranchas, deu origem ao arranjo cênico de Corridas. Fundamentamos a análise nos conceitos auto-mise-en-scène de Comolli (2009), da ideia de fuga em Dénètem Toum Bona, assim as reflexões benjaminianas acerca da juventude. Convoca-se filmes do cinema brasileiro moderno com a intenção de investigar a autoencenações da juventude no cinema brasileiro em relação aos espaços sociais com o objetivo de aprofundar a análise das experiências de coletivos contemporâneos, colocando-as em perspectiva histórica em relação ao cinema brasileiro. Mais precisamente, trazemos os filmes Couro de Gato (Joaquim Pedro de Andrade, 1962) e Lacrimosa (Aloysio Raulino e Luna Alkalay, 1969). Diante das diferenças entre os filmes, propomos uma vizinhança que destaque as modulações pelas quais essa juventude encena a si mesma diante da câmera. Em julho de 2019, a comunidade Caranguejo Tabaiares foi alvo de um “decreto de desapropriação em caráter de urgência”, expedido pela prefeitura da cidade. A desapropriação ocorreria em virtude das obras de requalificação do Canal do Prado, em cujas margens se localiza. Após intensa mobilização envolvendo a comunidade e movimentos sociais o decreto foi revogado. Entre as ações, se destacaram oficinas audiovisuais com a juventude do local que resultaram no videoclipe. Sem Destruição, que busca afirmar o senso de pertencimento dos moradores através de um combativo bregafunk. Em relação aos filmes do MLB, analisamos A Rua é Pública, Palmilha Aniversário e Castigo e Papagaio Verde, oriundos de oficinas com crianças da Ocupação Isidora e Eliana Silva entre 2013 e 2017 - no momento que as ruas estavam sendo abertas. A explosão de novas mídias intensifica certa interpelação à auto exposição dos povos pela imagem – convite elaborado dentro de uma perspectiva de vigilância e esgotamento do discurso de si do capitalismo contemporâneo. Nesse processo de apelo a exposição de si abre-se uma fissura. Um outro tipo de relação com a imagem em que jovens, crianças e adolescentes aparecem como atores críticos, que encarnam a possibilidade de uma experiência ainda porvir. Aparelhos e dispositivos previamente concebidos por uma ótica de esgotamento de si, consumo e vigilância se ressignificam. Esses sujeitos se relacionam com a câmera através de uma postura, que surge como decorrência prática da mise-en-scène, em encenações conjuntas de si, seja na reação ao olhar externo, seja na emanação de um olhar interno em que a câmera se “dispõe” aos filmados, articulando rostos, olhares e gestos, pela/na imagem em cenários de conflito. A Corrida é entendida como busca por um destino que se desdobra no espaço. Analisaremos modulações da corrida, observadas a partir de cenas dos filmes, caso da fuga da câmera em Lacrimosa, da perseguição da polícia pelos meninos em Couro de Gato, das corridas pelos becos de Caranguejo Tabaiares e das diversas cenas presentes em filmes do MLB. São momentos em que a corrida das crianças abre as cenas, em que os atores-sujeitos crescem no quadro através da corrida, inaugurando ainda movimentos de fuga e deambulações reflexivas. Nas paisagens, a princípio vazias a corrida das crianças é a evidência da vida em movimento, da paisagem e do território ocupados, habitados e, desta forma, vivos. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Luciana. Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos. Alameda, 2013. |