ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Afeganistão e a Guerra no Cinema de Atiq Rahimi |
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Autor | Jansen Hinkel Molineti Tavares |
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Resumo Expandido | Atiq Rahimi é um escritor e cineasta do Afeganistão, nascido em Cabul em 1962. Fugiu de seu país em 1984 rumo ao Paquistão e obteve asilo político na França. Sua literatura e cinema refletem tanto a experiência do próprio exílio quanto a realidade afegã, onde o jihad, a guerra e os conflitos políticos fazem parte do cotidiano do país. Suas histórias se concentram em personagens vítimas da guerra a partir de uma abordagem poética e metafísica, onde a religião islâmica e os costumes aparecem de forma crítica e intimista, construindo assim através da ficção retratos identitários e políticos sobre o povo do Afeganistão. O presente trabalho analisa dois filmes de Atiq Rahimi: “Terra e Cinzas” (2004) e “A Pedra da Paciência” (2012). Ambos os filmes são adaptações de romances escritos pelo próprio autor, sendo os filmes tanto propostas estéticas de cinema de autor quanto uma visão íntima e particularizada da história política do país, esta apresentada nas figuras de personagens que precisam lidar com as marcas da guerra na tentativa de recomeçar a vida. Em “Terra e Cinzas”, um avô e seu neto atravessam as paisagens áridas do Afeganistão após a invasão soviética, à procura de Murad, pai do menino. A aldeia onde eles viviam foi incendiada pelo exército russo e, como únicos sobreviventes, precisam chegar até Murad e contar o ocorrido. Nessa jornada, o velho senhor precisa encontrar a melhor forma de avisar seu filho que toda a família está morta e que só restaram ele e a criança. Nesse filme, baseado no conto homônimo escrito pelo cineasta (RAHIMI, 2002), a travessia do velho e da criança que carregam uma triste notícia para o destino final da viagem é onde o retrato do povo afegão se manifesta por uma abordagem audiovisual que intercala o realismo cinematográfico com intervenções poéticas e oníricas. Dessa forma, utilizando símbolos, flashbacks e imagens do sonho, o cineasta retrata a experiência da guerra no audiovisual. Em “A Pedra da Paciência”, um homem se encontra em estado vegetativo, abandonado pelos irmãos e pelos membros do Jihad. Preso a uma cama, e cuidado por sua esposa, o soldado aguarda a morte enquanto a mulher, perdida em memórias e no silêncio, divaga sobre questões da vida como a infância, a dor, a solidão, Deus e os sonhos. Por meio de suas palavras para o marido, ela busca uma forma de recomeçar a vida, a esperar pacientemente a recuperação ou a morte de seu marido. Esta espera, a “pedra da paciência” do título, define a atmosfera silenciosa da personagem, decodificada por enquadramentos fixos em locação interna. Confinada numa casa parcialmente destruída por bombardeios, ela tem apenas sua imaginação e linguagem para continuar sã. A proposta do trabalho, por meio da análise fílmica, é entender as narrativas sob o ponto de vista da metafísica (ou seja, as escolhas estéticas do cineasta que tratam de uma dura realidade a partir de códigos poéticos e simbólicos), a recortar tal questão para cada filme e obra literária. Também é objetivo discutir teoricamente a adaptação de um romance para o audiovisual no que compreende a metafísica tanto na jornada do avô e neto pelas estradas do Afeganistão (“Terra e Cinzas”); quanto na personagem que só tem a fala e a memória para dividir com o marido em estado vegetativo na busca por um recomeço (“A Pedra da Paciência”). Por fim, a comunicação se baseia na realidade do Oriente Médio e nas formas audiovisuais que um dos cineastas da região elegeu para contar, através do cinema, sua experiência com os conflitos de seu país natal. |
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Bibliografia | AL-MARASCHI, I.; GOLDSCHMIDT JUNIOR, A. Uma História Concisa do Oriente Médio. Petrópolis: Vozes, 2021. |