ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Agenciamentos-escolares-audiovisuais em meio a avanços neoliberais |
|
Autor | Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho |
|
Coautor | Luciana Ferrari Espíndola Cabral |
|
Resumo Expandido | Em um cenário de recrudescimento do projeto neoliberal na educação, discutimos aqui perspectivas para o audiovisual no ensino. A crescente onda de produção e comercialização de videoaulas tem se mostrado afim à perspectiva neoliberal de educação. Uma educação virtualizada por meio de videoaulas, de aparência democrática, tem se apresentado como solução para a educação por supostamente disponibilizar conhecimento de forma acessível a todos e eliminar os problemas causados pela formação do professor, tais como a falta de domínio dos conteúdos e de criatividade para “inovar”. Mas, essa escola virtualizada minimizaria o convívio social e se inviabilizaria como espaço de construção coletiva. Em uma perspectiva orientada por conceitos de Deleuze & Guatarri (1997), analisamos aqui a despotencialização da agência dos professores como produtores de materiais audiovisuais para uma educação pelo desenvolvimento da liberdade e da criticidade. Neste sentido, a captura da agência dos professores produtores de videoaulas parece articulada pelo próprio sistema educacional e pela concepção de educação que o sustenta e o justifica perante seus atores. As finalidades para que as videoaulas e os canais educativos de vídeo têm sido concebidos e mais frequentemente usados estão, segundo Silva et al. (2019), em sintonia com o que é solicitado pelos exames, currículos, rotinas escolares. De fato, para estes fins, os canais podem representar estratégia eficiente de preparação, já que são construídos de forma a viabilizar compreensão e memorização rápida, direta e objetiva do conteúdo, e permitirem a repetição e a retomada em qualquer ponto. Em sentido oposto, discutimos experiências de produção audiovisual que se apresentam como agenciamentos coletivos entre professores e alunos. Se por um lado a perspectiva neoliberal se apodera da potência criadora do trabalho docente, canalizando-a para os objetivos da performatividade capitalista, por outro restam vias de ação a serem trabalhadas na exterioridade do neoliberalismo. Nessa perspectiva destacam-se potências da produção audiovisual na escola, tais como a expressão das subjetividades, a emergência das diferenças, a agregação de forças em torno de projetos comuns, ou ainda as reconstruções curriculares por meio de artefatos e de culturas exteriores à escola. Cabral et al. (2021) apresentam como um vídeo e uma horta produzidos por alunos em uma escola pública, no contexto do ensino de Biologia, em um projeto de Horta Escolar, criam um agenciamento vídeo/horta que não para de produzir conhecimento e significação. Esse agenciamento não é resultado da repetição de um método de ensino, nem da reprodução de conteúdos fixos pré-estabelecidos. Em vez disso, o agenciamento vídeo/horta se prolonga no agenciamento vídeo/horta/diferença, uma vez que se conecta com a produção de outros agenciamentos vetorizados para fora da escola, relacionando-se a necessidades, impasses, desejos. Entre os prolongamentos desses agenciamentos estão os novos horizontes profissionais e acadêmicos dos alunos, as intervenções ambientais nas comunidades ou no cotidiano dos estudantes, e a virtualização da experiência a outras escolas, estudantes e professores por meio de redes sociais e websites. Este agenciamento se difere daquele produzido pela relação videoaula/ensino/exames, já que nesta o lugar reconhecido aos canais de vídeo educativos é sustentado pela aplicação de um método de ensino que não para de retroalimentar o próprio sistema educacional, seus objetivos e parâmetros. À despotencialização da escola como espaço social e da agência de professores e alunos como produtores audiovisuais se opõem os projetos e ações orientados para o desenvolvimento de práticas de significação audiovisual. Permanece como desafio analisar as interconexões desses processos e de suas agências e os limites de suas respostas, em um momento histórico de contínuo aprofundamento do dissenso público. |
|
Bibliografia | BALL, S. J. Educação Global S. A.: novas redes políticas e o imaginário neoliberal. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: UEPG, 2014. 270p. |