ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Conceito de Cineasta: identificação, atividades e processo de criação |
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Autor | Eduardo Tulio Baggio |
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Resumo Expandido | Nos últimos anos, alternadamente com abordagens específicas de cineastas, tenho trabalhado com o debate sobre o conceito de cineasta na Teoria de Cineastas. Identifico dois passos nessa caminhada que considero razoavelmente executados. O primeiro foi um levantamento amplo das definições do conceito de autor a partir de pensamentos anteriores à Política dos Autores, durante a Política dos Autores e posteriores à Política dos Autores em paralelo com a Teoria do Autor e as críticas a esta. O segundo desses passos foi a busca de identificação de distinções entre o conceito de autor, baseado na Política dos Autores e na Teoria do Autor, e o conceito de cineasta, baseado especialmente na Teoria de Cineastas, mas também com aportes da Crítica de Processo. Com esse segundo passo, cheguei a algumas distinções entre os dois conceitos, especialmente três: 1) Para a noção de autor, existe a ênfase na individualidade vinculada a obra fílmica, como visto na afirmação de Germaine Dulac: “todo trabalho cinematográfico que tenha valor em sua sensibilidade e poder deve ser o resultado de uma única vontade.” (T.N.) (DULAC, 1921:position 475), ou na célebre frase de Alexandre Astruc: “O autor escreve com a câmera como o escritor escreve com a caneta.” (ASTRUC, 2012 [1948]:3); Já para a noção de cineasta, as várias individualidades, em trabalho coletivo e dialógico, produzem a tessitura que leva à obra fílmica, visto que cineastas são todas as “pessoas envolvidas na produção de um filme que tenham atividades criativas.” (BAGGIO, GRAÇA e PENAFRIA, 2015:25). Assim, em alguma medida, a Teoria de Cineastas subverte o aforismo de Giraudoux, que disse que “não há obra, há apenas autores” (T.N.) (GIRAUDOUX apud TRUFFAUT, 1955:47), pois propõe que há obra (singular), porém com autores (plural). 2) Segundo André Bazin, a partir de uma consideração de Jacques Rivette, a noção de autor deve partir de “escolher o fator pessoal na criação artística como padrão de referência (...)” (BAZIN, 1957:4). Em outras palavras, autor emerge da “distinta personalidade do diretor” (SARRIS, 1962:132-133), que, assim, ganha traços de genialidade dignos de semideuses. De outro lado, para a noção de cineasta o processo de criação artística é entendido como tessitura a partir de aportes variados de individualidades envolvidas na feitura do filme. Ou seja, trata-se de compreender o processo de criação como redes de criação, com inúmeras linhas e pontos de contato entre elas: “Essa visão do processo de criação nos coloca em pleno campo relacional, sem vocação para o isolamento de seus componentes, exigindo, portanto, permanente atenção a contextualizações e, ativação das relações que o mantêm como sistema complexo.” (SALLES, 2008:22). 3) Para a noção de autor, “o significado interior” (Sarris, 1962:132-133), ou seja, algo que é absolutamente pessoal, novamente individual, é que surge como fator motivador para os filmes. Já para a Teoria de Cineastas os filmes são motivados contextualmente. Ou seja, as atividades de cineastas contribui para que certas marcas contextuais identifiquem certos filmes para além das marcas individuais. Nesse sentido, é fundamental termos em conta o que já foi profundamente debatido via Estudos Culturais quanto à perspectiva contextualista, inclusive em pesquisas em cinema. Isso dito, a proposta dessa comunicação é aprofundar esses três pontos distintivos do conceito de cineasta em relação ao conceito de autor, mas com foco majoritário no primeiro, tendo o segundo apenas como baliza histórico-conceitual. Assim, em suma, pretendo trazer novos aportes para o conceito de cineasta com base em três princípios: cineasta enquanto pessoa com atividade criativa na feitura de filmes; cineasta como parte de equipes ou grupos que fazem filmes em processos coletivos; e cineastas enquanto pessoas que ao fazerem filmes tecem obras a partir de contextos e relações dialógicas inerentes à vida em sociedade. |
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Bibliografia | Astruc, A. (2012[1948]). Nascimento de uma Nova Vanguarda: A Caméra-Stylo. Revista Foco. |