ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Masumura x Reichenbach |
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Autor | RODRIGO AUGUSTO FERREIRA DE MORAES |
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Resumo Expandido | Esse trabalho é um desdobramento da minha dissertação de mestrado defendida no PPGCOM-UFRJ em junho de 2019, na qual analiso filmes do período “erótico” (1981-84) da produção de Carlos Reichenbach, a partir do abjeto. Nessa pesquisa, um capítulo detalha de maneira comparativa as influências do cinema japonês na obra do diretor brasileiro. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo esmiuçar essa análise a partir da obra do cineasta japonês Yasuzô Masumura, no contexto da Nuberu Bagu (Nouvelle Vague Japonesa), a partir de três importantes obras – Manji (1964), Irezumi (1966) e Möjû (1969). A presença do sangue e da morte como elementos simbólicos é o fator que une os dois cineastas, e, Reichenbach cita o realizador japonês como uma importante referência, principalmente na construção de suas personagens femininas. Nesse sentido, os filmes do diretor japonês serão comparados com as obras de Carlão utilizadas na pesquisa: O Império do Desejo (1981), Amor, Palavra Prostituta (1982) e Extremos do Prazer (1984). Com uma abordagem diferenciada dos seus pares, os sete samurais da Nuberu Bagu (Lucia Nagib, 1994) que estabelecem uma posição de embate com os grandes estúdios, Masumura trilha um caminho próprio ao começar a dirigir seus filmes dentro do conhecido estúdio Daiei Company. Seu grande mérito foi retratar as contradições da sociedade japonesa daquele período, com destaque para as personagens femininas em seus trabalhos. Apesar de não ser considerado como parte integrante do grupo que constituiu a Nuberu Bagu, é também um dos percursores do movimento. Rapidamente se atenta para as contradições da imposição de costumes que a dominação americana (NOVIELLI, 2018, p. 90) impunha sobre a sociedade japonesa e passa a também produzir uma obra com elementos tipicamente japoneses, aprofundando o debate sobre o erotismo no cinema do seu país. Nas obras escolhidas para essa exposição, a presença de suas heroínas é recorrente. Nesse sentido, o que chama atenção é a utilização constante do sangue e da morte como elementos simbólicos na trajetória dessas personagens que se veem muitas vezes em relações abusivas com personagens masculinos, mas que acabam por inverter a situação ao longo da narrativa. O sangue é o símbolo da violência interna dessas mulheres, mas também representa a inferioridade dos personagens masculinos em relação a elas. Nos filmes japoneses clássicos é muito comum que esses temas sejam relacionados com a honra, por isso a mulher pura, o homem viril e honrado. Masumura, afirma que o sangue é algo essencialmente conectado ao feminino (MASUMURA in CAHIERS DU CINEMA, n. 224, p. 33), pois em todas as fases mais importantes da vida de uma mulher ele está presente, além do fato da menstruação que é periódica durante a idade fértil feminina, logo, é uma relação extremamente próxima do ponto de vista erótico e vital. A partir das proposições de Georges Bataille (2013, p. 168), que defende o objetivo último do erotismo como a fusão dos corpos, em um movimento que culmina com a morte dos amantes. Essa exposição visa demonstrar como Masumura constrói suas narrativas com a evidente a presença dos elementos “batalleanos”. Em Manji isso é acentuado no pacto de sangue feito entre os protagonistas e no pacto de morte que encerra a narrativa. Já em Irezumi, a presença de uma ilustração, na qual rios de sangue saem por entre as pernas de uma figura feminina com homens mortos aos seus pés é que trazem a temática à tona. Em Möjû, as sequências finais dos dois amantes com cenas de mutilações e também a morte de ambos é que evidencia esse fato. Como afirma Gordienko (2012, p. 224), o cineasta utiliza elementos do sexploitation para debater aspectos mais profundos sobre o erotismo. Dessa maneira o presente artigo apresenta como aqueles elementos são utilizados sob uma perspectiva filosófica, com especial atenção à posição das mulheres nessas obras. |
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Bibliografia | BATAILLE, Georges. O erotismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. |