ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | "Inxeba" e as feridas abertas pela masculinidade tóxica |
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Autor | Everaldo Asevedo Mattos |
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Resumo Expandido | Lançado comercialmente em 2017, "Inxeba", longa-metragem de estreia do diretor John Trengove, logo desfrutou de uma premiada recepção crítica e em festivais, sendo, inclusive, o filme indicado pela África do Sul para concorrer a uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Todo este sucesso, contudo, veio também acompanhado de bastante resistência dos espectadores sul-africanos mais conservadores, que tentaram boicotar "Inxeba" ao se verem incomodados com a representação, na obra, da tradicional prática de iniciação masculina conhecida como "ulwaluko" – rito de passagem ancestral que marca o ingresso dos jovens Xhosa na vida adulta – associada a questionamentos acerca dos ideais de masculinidade e sexualidade inerentes a esta prática e ao próprio povo Xhosa. Com o aparente intuito de propor reflexões acerca dos ideais acima referidos, especialmente num contexto africano impregnado de tradições, de respeito ao passado e suas heranças, Trengove constrói seu filme em torno de três homens com personalidades bem diferentes: Xolani (Nakhane Touré), Kwanda (Niza Jay) e Vija (Bongile Mantsai). Membro do povo Xhosa, Xolani deixou a comunidade para morar em uma cidade próxima e trabalha em um armazém local, mas, anualmente, retorna a suas origens para servir de instrutor de algum garoto que será submetido ao "ulwaluko". É nesse contexto que ele é abordado pelo pai de Kwanda, um dos jovens iniciados, que desconfia que o filho seja homossexual e pede a Xolani que, como instrutor, seja rígido com o jovem durante sua iniciação, de modo a ajudá-lo a realmente “tornar-se homem”. O que ninguém da comunidade sabe é que o próprio Xolani é gay e apaixonado por Vija, um dos outros instrutores, com quem mantém relações sexuais durante os encontros anuais para realização do ritual. A partir da tensão entre esses três personagens e, especialmente, do constante confronto de Kwanda com relação às práticas e ideais envolvidos no "ulwaluko", Trengove parece querer levar o público a refletir sobre questões, de certa forma, universais, mas que são ainda mais relevantes no contexto sociocultural que ele elegeu para situar sua obra. Afinal, o que significa ser homem? A heteronormatividade e a heterossexualidade são os únicos critérios para se definir a masculinidade? Aprende-se a ser homem? Ao tornar esses questionamentos texto e subtexto de seu longa-metragem de estreia, Trengove imbui "Inxeba" de narrativas e imagens que levam à reflexão acerca da própria construção da masculinidade em África (OUZGANE; MORRELL, 2005), além de salientar as feridas, físicas e emocionais, que podem ser abertas, individual e coletivamente, a partir da manutenção impositiva de ideais de gênero e sexualidade potencialmente ultrapassados (KIRBY-HIRST; KARAM, 2018; SCOTT, 2020). A partir desses pressupostos e questionamentos, portanto, tendo como objeto de estudo "Inxeba", de John Trengove, propõe-se, neste trabalho, a análise de como o diretor salienta, na tessitura imagética e textual de seu filme, questões relacionadas à (re)construção da masculinidade em África e às feridas, físicas e emocionais, sofridas pelas novas gerações, que confrontam com novas configurações de gênero e sexualidade os modelos tradicionais normalmente impostos. |
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Bibliografia | GREEN-SIMMS, Lindsey B. Queer African Cinemas. Durham: Duke University Press, 2022. |