ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A Trilogia Férrea - A locomotiva no Cinema de Peter Tscherkassky |
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Autor | Barbara Bergamaschi Novaes |
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Resumo Expandido | O modus operandi do found footage será o que distingue a terceira geração de cinema de vanguarda vienense de Peter Tscherkassky e também o que marca a segunda fase de sua filmografia, sendo um ponto de inflexão na sua carreira. Essa fase será nomeada pelo diretor também como “Dark Room”, pois marca uma volta do cineasta à sala escura do laboratório analógico. Uma das características marcantes dessa fase é o retorno a filmes canônicos e fundadores dos “primórdios” do meio, como o cinema de atrações (de 1895 a 1908), e ao cinema de neo vanguarda dos anos 1960, aliado a uma fina ironia mordaz que brinca com os códigos clássicos da diegése cinematográfica, como o raccord, a continuidade, o esquema do plano-contra plano, etc. Uma curiosa personagem que aparece com destaque nesses filmes-miniatura é a locomotiva a vapor. Assim, analisamos três desses filmes sendo eles: Motion Picture (1984), L'Arrivée (1998) e, seu mais recente filme, Train Again (2021). O primeiro filme a ser feito com esse material de arquivo no estilo found footage foi Motion Picture (1984) - feito a partir de um único frame still do “primeiro filme da história”, La Sortie des Ouvriers de l'usine Lumière à Lyon (1895) dos irmãos Lumière. O segundo filme, é também uma homenagem aos criadores do cinematógrafo e é feito a partir de um fragmento do filme Mayerling (1968), um melodrama de Terence Young. Contrariando a ilusão da mimesis e da narrativa linear teleológica do cinema institucional clássico, L'Arrivée faz uma alusão irônica ao filme A Chegada de um trem a estação de la Ciotat (1895). Já Train Again é feito a partir de um colagem caleidoscópica de imagens de arquivos de filmes nos quais o trem aparece de forma privilegiada. Assim Tscherkassky busca fazer uma analogia entre a locomotiva e as propriedades do filme analógico, ao mesmo tempo que produz um catálogo de homenagens aos artistas que tem como referência na sua formação como: Kurt Kren, Peter Kubelka, Stan Brakhage, Robert Breer, Ernie Gehr, Ken Jacobs, James Benning e Bruce Baillie. A opção para escolher o trem como personagem de Tscherkassky não é mero capricho ou idiossincrasia do diretor. A locomotiva se configurou como a máquina-ícone da modernidade, se tornou uma figura simbólica dos avanços e progressos da ciência e de uma revolução epistemológica no sujeito moderno; Ela estará presente em grande parte da iconografia da história do cinema, em especial no Primeiro Cinema, nos filmes de Griffith, nos primeiros Westerns e nos stunt de comédia de Buster Keaton. O filme de Tscherkassky portanto diz respeito uma contra-história do cinema institucional hollywodiano, se afiliando ao Primeiro Cinema e também ao cinema serial, métrico e estrutural de vanguarda dos anos 1960. O filme de Tscherkassky retorna às imagens do passado do cinema como formas alegóricas para elaborar o presente, trabalho não mas com uma ontologia clássica mas uma hantologia cinematográfica. Seja como “já não é” - o cinema não será nunca o mesmo cinema do início do século e as tentativas de revivê-lo não passam ou de farsa, deboche, crítica ou ironia; Seja como “já é” - a eventual morte do cinema anológico não cansa de orientar os cineastas em suas produções no presente - com medo de sua possível dissolução no mundo de pixels, da realidade virtual e efeitos especiais de realidade aumentada. Os filmes de Tscherkassky respondem portanto a dois lutos mal elaborados ou fantasmas que assombram o cinema e, assim, introduz a assombração na própria construção e estrutura da linguagem cinematográfica. Podemos também dizer que este filme é tanto uma ode ao gesto intempestivo, uma homenagem a esse cinema do passado que busca resgatar e reanimar a “alma”a partir de uma “poética da obsolescência''. Ao mesmo tempo que funda um monumento em sua memória, esse monumento já é inaugurado em ruínas, um monumento ao iconoclasmo semelhante àquilo que Walter Benjamin definiu como o "caráter destrutivo”. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política. Volume 1.Editora Brasiliense, 2014. |