ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Cinema coletivo e decolonial na produção audiovisual das bordas |
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Autor | Irislane Mendes Pereira |
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Resumo Expandido | O que falar do cinema de borda, das margens, da quebrada, de garagem ou periférico? São muitos os adjetivos para classificar um cinema pungente e criativo que vem ressignificando e contaminando todo um “centro”. Nesse cenário, se faz necessário a atualização e o entendimento desses conceitos constituintes de discursos acerca dessa produção específica, cada vez mais presente no audiovisual brasileiro. Angela Prysthon (2005: 443) propõe uma leitura de cinema periférico a partir da abordagem dos filmes mainstream do cinema nacional contemporâneo que “vem reelaborando insistentemente o problema do periférico, tematizando as ‘margens’ do Brasil das mais diversas formas [...]”. Para Milton Santos (2006: 212), as margens se fundem ao centro para formar, a partir da leitura da metáfora de Pascal, “o universo visto como uma esfera infinita, cujo centro está em toda parte[...]”. E, retornando à Prysthon (2005: 443): “De repente, as margens passam a centro e o centro a margem, numa celebração catártica das diferenças em desfile.” Ao escolher tratar como Cinema das bordas, tomo emprestada a definição proposta pela pesquisadora e professora Jerusa Pires Ferreira (2010: 11), como forma de solucionar “nomenclaturas como o de margens e marginalidades ou cultura periférica”. Acrescento à escolha a definição de Diana Junkes (2020: 21) quanto às bordas que se referem “à consideração de espaços não-canônicos e os traz para o centro da observação; portanto, chancela o que é tido como periférico, marginal, se quisermos, excêntrico.” Lançados em 2019, os curtas-metragens Bonde (produção do Coletivo Gleba do Pêssego) e Perifericú (produção do Coletivo Maloka Filmes) tiveram destaque e projeção em mostras e festivais nacionais e internacionais. Com direção coletiva, formada por realizadores LGBTs vindos das regiões periféricas da cidade de São Paulo, jovens com formação em cursos livres ou cursos técnicos em cinema, desafiam e modificam a produção audiovisual brasileira. Mostram-se como possibilidade de um cinema de representatividade, um cinema decolonial construído dentro da multiplicidade de vozes e urgências, que passam por questões de gênero, de corpos marginalizados, das negritudes; propondo a discussão sobre temas considerados ainda tabus que questionam padrões e agregam as minorias. Ao colocar identidades diversas nas telas em diálogo com a contemporaneidade, juntamente com acesso às novas tecnologias e linguagens, o que nos chega é uma produção inventiva, original e que, em certa medida, atualiza e reescreve o conceito “Cinema Periférico de Bordas” tratado por Bernadette Lyra (2016: 47). Não mais visto de forma precária na técnica, em decorrência ao orçamento baixíssimo, não mais visto como uma apropriação imitativa e fragmentária de gêneros e sim, se distanciando dos marcadores pertencentes a determinadas regiões culturais ou geográficas do Brasil, tornando-a mais universal. O que essa produção nos possibilita é um olhar atento e crítico a respeito de uma realidade que nos circunscreve e nos coloca no centro e nas bordas. Se “o decolonial antevê e deseja”, segundo Michelle Sales e Pablo Assumpção (2019: 2), a coletividade coloca esse projeto em prática. Pois é esse cinema que atravessa, transcorre, avança e perfura as estruturas identitárias da cidade de São Paulo, através da produção coletiva e decolonial, que estará presente no Cinema das bordas. Para Stuart Hall, “Estamos nos limites extremos, nas ‘bordas’ do mundo metropolitano – sempre ao sul de El Norte de alguém mais.” (HALL, 1996: 71) |
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Bibliografia | FERREIRA, Jerusa Pires. Cultura das bordas: Edição, comunicação e leitura. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2010. |