ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Found Foliage: impressões botânicas no cinema experimental |
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Autor | PEDRO AUGUSTO SOUZA BEZERRA DE MELO |
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Resumo Expandido | Esta comunicação vincula-se aos debates ecológicos provocados por certa filosofia contemporânea crítica aos modos de vida e às dinâmicas catastróficas de produção social nas sociedades capitalistas ocidentais para propor, a partir de certa prática cinematográfica experimental, a elaboração de uma estética e uma ética ecológicas. Inspirados nas críticas do Antropoceno e do Capitaloceno, a partir de autores como Donna Haraway (2016a, 2016b) e Nicholas Mirzoeff (2020), entre outros, pondo em diálogo diferentes autores que propõem formas de estéticas não humanas, uma estética ecológica como prática artística, tais como Adrian Ivakhiv (2013) e Lucas de Castro Murari (2019). A expressão do título “found foliage” pretende retomar certo filão do cinema, os filmes de “found footage”, para remetê-lo às antigas práticas de ilustração botânica, como os Florilégios e os Herbários. Os dois filmes analisados aqui, The Garden of Earthly Delights (1981), de Stan Brakhage, e Phytography (2020), de Karel Doing, são vistos como exemplos de found foliage que vão além da mera nomeação de um gênero experimental por apresentar formas alternativas de produção que conjugam uma ecologia natural com uma ecologia do cinema. A fim de não se distanciar das propostas conceituais, éticas e estéticas dos autores, tentamos dialogar com suas próprias especulações a respeito do Untutored eye, em Brakhage, e da técnica de Phytogram, em Doing. Esses filmes compartilham de uma sensibilidade surgida de uma relação singular com o meio (o suporte técnico do cinema), um modo de produção heterogêneo (diferente das formas tradicionais da produção fílmica) e a materialidade de seus objetos - as plantas. O agenciamento desses elementos, além de um engajamento radical com elementos não humanos, instaura uma experiência estética em favor do que podemos chamar um “regime visual ecológico”, capaz de habilitar um pensamento e uma percepção do mundo sob uma perspectiva desviante da centralidade do anthropos. Através de procedimentos estéticos singulares, esses filmes criam regimes de visualidade capazes de expressar uma pluralidade de forças sensíveis para além da percepção humana. O pensamento ecológico (MORTON, 2010) parece, assim, pertinente para compreender como propostas estéticas de reestruturação do sensível reverberam desde os processos e procedimentos da realização fílmica até o objeto final. Para tanto, nosso viés analítico dirige sua ênfase aos processos e procedimentos próprios de cada obra, numa investigação interessada em compreender como as singularidades de seus métodos reverberam na experiência fruitiva habilitando a possibilidade de uma abertura ontológica. Em The Garden of Earthly Delights, Brakhage prensa flores, pétalas e sementes de seu jardim, imprensadas entre faixas transparentes de filme 35mm, que passa por uma impressora óptica para criar a cópia em filme. Este gesto abre modos alternativos de percepção por meio da atenção ao material do filme, com a clareza representacional sendo substituída por impressões táteis. Também em Phytography a matéria é colocada diretamente na celulóide, a flor ou planta registra sua presença física na superfície material, ao mesmo tempo que usa sua própria química interna para tornar a imagem legível. Uma expressão contundente da interioridade não humana ocupa a tela, que se articula no entrelaçamento de um procedimento orgânico com uma mediação técnica, e cuja presença material recusa insistentemente a distância representativa em favor da imersão sensorial, multiplicando, assim, maneiras pelas quais certo modo de “pensar com” se manifesta no engajamento físico direto com as realidades materiais dos objetos. Os realizadores fazem uso das plantas e flores como matéria expressiva, além de técnicas alternativas de impressão que emulam uma espécie de simbiose entre o meio (a mídia) e o objeto expressivo (as plantas) (IVAKHIV, 2013, p.132). |
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Bibliografia | HARAWAY, Donna. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes. Trad. Susana Dias, Mara Verônica e Ana Godoy. ClimaCom – Vulnerabilidade [Online], Campinas, ano 3, n. 5, 2016a. (acesso em 20/04/2021) |