ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Criação autobiográfica post-mortem: uma revisão de Silverlake Life |
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Autor | Gabriel Kitofi Tonelo |
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Resumo Expandido | Silverlake Life: The View from Here (1993) ocupa um lugar importante na história do documentário mundial. Quando exibido em salas de cinema e veiculado em emissoras de televisão em todo o mundo, espectadores puderam acompanhar o último ano de vida do cineasta Tom Joslin, junto de seu parceiro, Mark Massi, em meio à crise da AIDS. A partir da narrativa criada após a morte de Joslin por seu ex-aluno Peter Friedman, Silverlake Life apresentou um documento de sua época. Sob a égide do amor e da cumplicidade entre o casal enquanto seus sintomas se agravavam – e diante da possibilidade de morte – o alcance da Silverlake Life evidenciou seu poder sociopolítico em uma abordagem da crise da AIDS e do amor gay de maneira até então pouco abordada publicamente. Além do alcance espectatorial, Silverlake Life também atraiu a atenção de críticos e estudiosos por apresentar uma abordagem diferenciada dentro do cânone do cinema documental na época de seu lançamento. O empreendimento autobiográfico em relação à morte iminente – e a inclusão de tal evento na narrativa – fez Silverlake Life alcançar “o que nenhuma autobiografia convencional jamais conseguiu: a realização de autobiografia além do fechamento da morte” (Egan, 1993). Como uma narrativa autobiográfica que continua para além da morte do cineasta, a criação do produto que os espectadores passaram a conhecer como Silverlake Life dependia da colaboração de outras pessoas. A morte do indivíduo que compreendemos como sendo a principal força criativa para a realização de um filme autobiográfico pode nos fazer imaginar o quanto daquilo que vemos na tela seria relacionado a impulsos criativos iniciais e quanto seria resultado de (in)viabilidade, indeterminação e da perda de controle de um cineasta-autobiógrafo diante da inexorável passagem do tempo e da transformação por circunstâncias limítrofes – como o processo de adoecimento e, posteriormente, sua morte. Dada a existência de um documento deixado por Tom Joslin relacionado à realização do filme (que é mostrado no início da narrativa) pode-se perguntar como exatamente Joslin teria projetado o “Silverlake Life” que vemos na tela. Poderia Joslin ter inicialmente imaginado Silverlake Life como um filme sobre o agravamento da doença em seu corpo durante uma circunstância histórica específica (a crise da AIDS), que poderia culminar em sua morte ou, eventualmente, em sua cura? O que exatamente estava contido no documento deixado pelo cineasta? Seria um "roteiro", que talvez vislumbrasse diferentes possibilidades narrativas, dada a indeterminação de seu quadro clínico? Ou seria mais como uma proposta aberta, em que a realização de seu filme seria delegada a outra pessoa, com base no material filmado? Que tipo de escolhas estilísticas e narrativas Joslin teria imaginado para Silverlake Life? Como isso se relacionaria com seu trabalho cinematográfico anterior, especialmente considerando a diferença entre “Silverlake Life” e seus filmes autobiográficos anteriores, “Blackstar: Autobiography of a Close Friend” (1977) e o inacabado “The Architecture of the Mountains”? Nesta apresentação, pretendo responder algumas dessas questões. Ofereço uma análise do percurso do processo criativo do filme a partir do debruçamento em fontes extratextuais primárias pouco exploradas até então. Tal análise permitiu traçar considerações menos perceptíveis sobre como aconteceu o trabalho compartilhado e colaborativo do filme, em uma perspectiva autobiográfica. Essas fontes são: 1) a proposta original do filme, escrita por Tom Joslin e que é mostrada no início de Silverlake Life; 2) O diário pessoal de Mark Massi, cedido a mim por Peter Friedman e; 3) a produção de extensas entrevistas realizadas com Peter Friedman especificamente sobre esse assunto. |
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Bibliografia | EGAN, Susanna. “Encounters in Camera: Autobiography as Interaction”. Modern Fiction Studies. 40.3: 593-618. 1994. |