ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Seu Nenê da Vila Matilde em Espaços Intermidiáticos do Samba Paulista |
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Autor | Samuel Paiva |
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Resumo Expandido | Aproximar história e geografia no campo do cinema, a partir da análise fílmica e com base na noção de espaço, é um dos objetivos desta comunicação. Trata-se de experimentar um método analítico que pode ser relacionado ao documentário de curta-metragem Seu Nenê da Vila Matilde (direção de Carlos Cortez, 2001), produzido por CPC-Umes, Birô de Criação e Gullane Filmes, no qual acompanhamos a biografia do Seu Nenê, que conta sua própria história com depoimentos, performances musicais, fotografias, além de vários materiais de arquivo também utilizados para apresentar sua visão sobre o samba. Tocador de pandeiro, Seu Nenê cresceu no bairro da Zona Leste de São Paulo, Vila Matilde, onde sua identidade fundiu-se à do lugar que passou a ampliar os espaços do samba paulistano, inclusive pela criação da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde (fundada em 1949). No filme, a história do Seu Nenê intersecciona tempos, lugares e personagens diversos relacionados ao samba paulistano, entre outros, Adoniran Barbosa, Francisco Lucrécio, Álvaro Pedro Rosa (o Paulistinha), Deolinda Madre (Dona Eunice), mas se estende a outros lugares, por exemplo, o Rio de Janeiro, onde ocorre o depoimento da cantora Alcione durante um desfile da Nenê de Vila Matilde em uma ocasião na qual a escola de samba paulista desfilou na Marquês de Sapucaí, em 1985. A propósito, a inspiração de Seu Nenê nas escolas do Rio de Janeiro, especialmente a Portela, é um dos assuntos afirmados por ele em seus depoimentos. Assim, uma das hipóteses deste trabalho segue no sentido de uma investigação do espaço do samba paulista no cotejo com diversos tempos e lugares envolvidos com a cultura negra. Em tal perspectiva, além da espacialidade própria da linguagem cinematográfica, com enquadramentos, movimentos e angulações de câmera, profundidade de campo, utilização de cenários, etc., são consideradas dimensões espaciais que se aproximam de proposições do geógrafo Milton Santos, que defende a compreensão do espaço a partir de relações sociais, aspecto que já discutia desde os anos 1970 em seu livro Por uma geografia nova (SANTOS, [1978] 2004). Para Santos, “a geografia deve ocupar-se sobre como o tempo se torna espaço e de como o tempo passado e o tempo presente têm, cada qual, um papel específico no funcionamento do espaço atual” (Idem, p. 135). Tendo seguido na pesquisa sobre esse tema em diversas publicações posteriores, sua noção de espaço foi incorporando outras possibilidades, por exemplo, a dimensão de "cidadania" relacionada à "corporeidade" dos sujeitos (SANTOS, 1996). Tal corporeidade é uma indicação objetiva e também subjetiva sobre como as pessoas se apresentam e se percebem, em razão de suas individualidades, sociabilidades e consciências. Cogitamos então que o método de análise proposto, ao incorporar o pensamento de Santos, pode se aproximar de algumas vertentes contemporâneas dos estudos de cinema, por exemplo, de sua perspectiva “através dos sentidos” (ELSAESSER, HAGENER, 2018) ou de “geografias afetivas” (CHAUVIN, 2019) e sobretudo do “cinema de sensações” (PETHÖ, 2015) que, em razão da intermidialidade, pode nos engajar em uma experiência que, neste caso estudado, é suscitada sobretudo pelas relações entre cinema e música. Como exemplo, vale lembrar a montagem de uma das sequências iniciais de Seu Nenê de Vila Matilde na qual, apresentando-se o protagonista, em vez de observamos sua própria imagem em cena, vemos uma estação de trem onde pessoas diversas transitam, enquanto ouvimos o samba “Azul e Branco”, cuja letra fala que, “se não temos dinheiro / temos a alegria / de ser Nenê da Vila Matilde / noite e dia”. E daí por diante sujeito e coletividade vão interagindo e provocando sinestesias, ganhando espaço como forma atual do tempo. |
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Bibliografia | CHAUVIN, Irene Depetris. Geografías afectivas – desplazamientos, prácticas espaciales y formas de estar juntos en el cine de Argentina, Chile y Brasil (2002-2017). Pittsburgh, Estados Unidos: Latin American Research Commons, 2019. |