ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Homens do Amanhã: O Super-Homem, o corpo e a assombrologia. |
|
Autor | Matheus de Arruda Morais |
|
Resumo Expandido | Durante a história do Cinema, a mídia tem favorecido a sua natureza como meio visual em neglicenciamento dos outros sentidos, algo definido como “oculocentrismo”, tendendo a “descorporificar” a experiência fílmica. O conceito de Cinema Háptico, codificado por autores como Jennifer Barker, Linda Williams e Steven Shaviro, tenta “recorporificar” a experiência cinematográfica, focando nas interações dos corpos na tela (e o corpo da própria tela) com o corpo da audiência em um processo inerentemente fisiológico. Entender o ato de ser expectador como um fisicamente localizado, sujeito a gravidade, a pressão alta/baixa, aos fôlegos e ao estômago, etc. Na definição do Cinema Háptico, todo o cinema é físico, mas existem gêneros mais físicos do que outros: aqueles focados em causar reações no corpo, por exemplo. Linda Williams em particular cita o horror (causar calafrios/gritos), melodrama (lágrimas e choro), e o pornô (a excitação sexual), mas Jennifer Barker por sua vez argumenta por uma expansão dessa definição além desses três. Durante os últimos vinte anos (e em particular a última década) o cinema tem visto uma dominação hegemônica por parte de um gênero particularmente Háptico, notado por histórias sobre pessoas mitológicas capazes de feitos físicos extraordinários popularmente, chamado “Cinema de Super-Herói”. Os super-heróis, talvez mais do que qualquer outro conceito, fornecem um cinema particularmente háptico, pois sua natureza é inerentemente fisicamente localizada e a própria experiência do gênero se constrói em torno de embates corpóreos entre o bem (o super-herói) e o mal (o supervilão) personificados corpos idealizados. Isto é algo evidenciado desde os primórdios com o “primeiro” super-herói: Super-Homem, o Homem de Aço. Sua fama está em seus feitos atléticos extraordinários, como ilustrado na sua capa originária onde o personagem é mostrado erguendo um carro acima de sua cabeça com facilidade enquanto um homem normal observa a cena e olha na direção da audiência em choque. Sua roupa colorida e o S são símbolos drapejados em seu corpo. Sua natureza, assim como a de todos os super-heróis que se seguiriam, é inerentemente física, corpórea. Em 1939, durante a Exposição Mundial de Nova York (que almejava mostrar ao público a arte e a tecnologia “do mundo do amanhã”) o Super-Homem ganha sua alcunha emblemática: “O Homem do Amanhã”. Super-Homem seria então o arauto de um novo homem que surgiria das cinzas da Grande Depressãol, um ideal a ser copiado e imitado para o bem da humanidade, enquanto seus supervilões seriam os corpos decadentes de um futuro terrível. A Utopia de um homem só contra um coletivo de distopias de um homem só. Os posteriores super-heróis seguiriam sua deixa, representando interpretações diferentes do que seria um “Homem do Amanhã”, quais feitos atléticos viriam com este futuro, quais morais, quais símbolos filosóficos escritos no corpo. Mas em sua esmagadora maioria, os super-heróis que hoje dominam o cinema foram criados como imaginários futuristas para nas décadas de 40 e 60. Seus “amanhãs” são antigos e nunca vieram. Mesmo assim, décadas (quase um século no caso específico do Super-Homem) após suas criações, estes personagens e seus corpos ainda são os “homens do amanhã” para o cinema global, nas sombras de uma nova depressão econômica e novas crises globais. Os espectros de um futuro que nunca veio (e talvez nunca venha) na linha do conceito chamado “Assombrologia” como explorado pelo sociólogo pós-moderno Mark Fisher em “Fantasmas da Minha Vida: Escritas sobre Depressão, Assombrologia e Futuros Perdidos”. O trabalho explorará como os corpos espectrais e extraordinários destes fantasmas do futuro esquecido dominam o cinema atual e o que isso significa para o imaginário do “Homem do Amanhã” de hoje. |
|
Bibliografia | BARKER, Jennifer. The Tactile Eye. Los Angeles: University of California Press, 2009. |