ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Jingle Jangle: o arquivo-fantasma em Os famosos e os Duendes da Morte |
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Autor | Leonardo dos Santos Pinheiro |
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Resumo Expandido | O objetivo deste trabalho, parte de uma pesquisa de dissertação de mestrado em andamento, é analisar, a partir de duas sequências do filme Os Famosos e os Duendes da Morte de Esmir Filho, como são utilizadas as imagens deixadas por Jingle Jangle (personagem do filme) em seu blog pessoal e como elas contribuem para a narrativa. O trabalho aposta que essas imagens, em cruzamento com o plano subjetivo do personagem protagonista, quando disparadas em relação a figura físico-simbólica da ponte da cidade onde o filme se passa, criam uma atmosfera melancólica. A partir das sequências escolhidas busca-se identificar uma possível pathosformel – conceito empregado por Aby Warburg para "testemunhos de estados de espírito transformados em imagens", nas quais "as gerações posteriores ... procuravam os traços permanentes das comoções mais profundas da existência humana" (BING apud. GINZBURG, 1990, p. 45) – de uma estética da melancolia, transbordando a própria narrativa do filme. Dessa maneira, o trabalho investiga como o cinema pode produzir imagens que podemos ler em uma chave de inteligibilidade chamada aqui de melancolia ou estética da melancolia, nos permitindo conhecer o mundo / ou afecções de mundo através da obra. Arrisca-se assim, pensar a melancolia como dimensão estética e epistemológica, pensando no que entendemos culturalmente, dentro da experiência e da memória social, como melancolia e de que forma isso se articula no campo das imagens, em especial o cinema e as imagens em movimento. A hipótese que o trabalho propõe aqui é que o filme Os Famosos e os Duendes da Morte apresenta elementos imagéticos e sonoros na montagem dessas sequências que, dialogando com a cultura, a história da arte, das imagens e da humanidade, dentro de uma chave de inteligibilidade melancólica não convencional e esvaziada, escapa à estereotipia da depressão e, de maneira potente e revigorante, contribui para o desenvolvimento narrativo-estético da filmografia nacional brasileira. Deriva desta suposição a possibilidade de uma nova formação, individual e social, que produz agenciamentos a partir da catástrofe e produz uma leitura antiutópica da modernidade para, dessa maneira, elaborar um diagnóstico que não seja totalizante ou determinista da experiência melancólica do cinema. A metodologia de trabalho que proponho é o de uma “ciência sem nome”, em uma aproximação ao que Agamben (2017) chama o método warburguiano, descrevendo seus três planos principais: “o primeiro é o da iconografia e da história da arte, o segundo é o da história da cultura, o terceiro e mais amplo é, precisamente, o da “ciência sem nome”, orientada para um diagnóstico do homem ocidental através de seus fantasmas”. (AGAMBEN, p.125). A partir desta ciência sem nome, pensar leituras e significações das imagens com uma base interdisciplinar a partir da história da cultura e a experiência e memória social. Para isso, pretende-se partir da análise técnica dos elementos estético-narrativos constituintes das sequências escolhidas com foco na montagem e na composição da imagem (enquadramento, profundidade de campo, movimento de câmera, mise-en-scene, direção de arte, design de produção, design de locação), passando pelos três níveis de análise propostos por Warburg, o da iconografia e história da arte, o da história da cultura e chegando ao diagnóstico humano, partindo da experiência estética do cinema. Dessa maneira, a desconstrução e segmentação dos elementos citados e a análise iconográfica e multissemiótica da construção dos planos, em toda sua complexidade de imagem e som permite a intersecção e o diálogo com outras obras, permitindo uma leitura ampla da pathosformel da estética da melancolia a partir do filme em questão. Ensaia-se, portanto, um "anti"diagnóstico (ou seja, entendendo-se aqui que o diagnóstico corrente seja o da patologização e da impossibilidade da tristeza, tirando das pessoas o direito à melancolia) sobre as formas do desamparo e/ou do trágico na contemporaneidade. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. “Aby Warburg e a ciência sem nome”. In: AGAMBEN, Giorgio. “A potência do pensamento: ensaios e conferências”. Tradução de António Guerreiro. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017. pp. 111-132. |