ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Lendo Fantasmas e Na sua Companhia: roteiro e espaço em off |
|
Autor | Fabiano Grendene de Souza |
|
Resumo Expandido | Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Epifanias em Minutos: a arte narrativa dos curtas-metragens”, desenvolvido com aporte da PUCRS. Em tal projeto, busca-se analisar os roteiros de vinte curtas-metragens brasileiros, produzidos entre 2001 e 2020. Neste contexto, estudam-se não somente os filmes finalizados, mas os roteiros que deram origem a tais obras, em uma abordagem que se insere no campo dos Estudos de Roteiro. Inclusive, parte da produção brasileira recente deste tema, que apareceu no dossiê organizado por Pablo Gonçalo e Lúcia Monteiro (2021), evidencia, em alguns casos, as tensões entre a forma de escrita de roteiros de filmes e séries contemporâneos com os padrões e normas veiculados pelos manuais canônicos, como os de Syd Field (1995), Robert McKee (2006) e Michel Chion (2007). Em uma revisão de tais manuais de roteiro, percebe-se que a questão do espaço em off é mencionada quase que exclusivamente quando aborda-se uma narração que se sobrepõe à imagem. Sem entrar no debate conceitual de tal ênfase, ressalta-se que a construção do espaço em off, em seu aspecto expressivo, quase não é referenciada também por outros livros de roteiro, com exceção de Flavio de Campos (2011), que pelo menos destaca a possibilidade da fala "fora da imagem" (p.204). Nesta perspectiva, nosso trabalho não deixa de ser uma contribuição para que a potência da construção do espaço em off esteja mais presente nos debates sobre roteiro. Nesta comunicação, examinaremos os roteiros dos curtas-metragens Fantasmas (2010), de André Novais Oliveira, e Na sua Companhia (2011), de Marcelo Caetano. Em nossa abordagem, destacamos principalmente como a utilização do espaço em off (que marca tais obras) já começa a ser construída no momento da escrita do roteiro. Ao mesmo tempo, busca-se mapear as formas com que este espaço se desenvolve em cada curta-metragem, comparando o roteiro com determinadas propostas presentes nas obras finalizadas: em Fantasmas há vários sons que não eram previstos no roteiro, há diálogos alterados e o desfecho é diferente. Já no curta-metragem Na sua Companhia existem cenas que trabalham o fora de campo, mas que não traziam este direcionamento no roteiro. No que tange ao uso do espaço em off, Fantasmas e Na sua Companhia se diferenciam, porque o primeiro é todo realizado com dois personagens conversando fora de campo, enquanto o segundo marca sua narrativa por uma variação de formas de tal utilização, sendo que uma das mais marcantes acontece na primeira cena: o protagonista (sem aparecer) conversa com outro, enquanto filma o corpo dele, sem mostrar a cabeça e os pés. A partir das reflexões de Noel Burch (1992), destacaremos os segmentos do espaço em off que os filmes priorizam: ambos utilizam o "atrás da câmera" (p.37), mas Fantasmas usa expressivamente os lados direito e esquerdo do enquadramento. Já Na sua Companhia, utiliza também os espaços acima e abaixo do campo, principalmente ao mostrar personagens que têm partes do corpo fora de quadro. Ao mesmo tempo, deve-se lembrar que nos dois curtas-metragens a utilização do espaço em off está relacionada principalmente ao fato de os personagens utilizarem câmeras de vídeo amadoras. Assim, o que vemos no campo é, prioritariamente, o que a câmera capta digitalmente. Ou seja, quando a imagem que vemos se movimenta ou se desestabiliza, tal ação é oriunda de algo que ocorre no espaço em off. Em Fantasmas, a câmera serve ao intuito de um personagem que quer se certificar da existência de alguém que passará na frente da câmera. Já em Na sua Companhia o jogo de campo e fora de campo parece ligado a uma situação que envolve voyeurismo e jogo erótico. Nesse contexto, nos interessa também comparar como os roteiros articulam essas questões, tanto em termos de escrita (como sinalizam as falas dos personagens que não aparecem, como descrevem a presença da câmera), quanto em termos da relação dramática construída entre personagens e as imagens produzidas por eles. |
|
Bibliografia | BURCH, Noel. Práxis do Cinema. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992. |