ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Cine Globo de Três Passos: a arquitetura projetando o futuro |
|
Autor | Christian Jordino Antonio Ferreira Alves da Silva |
|
Resumo Expandido | “A história de Três Passos se confunde com a história do próprio cinema”. Assim Roberto Levy, proprietário do Cine Teatro Globo, define a relação entre a cidade e a exibição cinematográfica. Uma relação que surge antes da construção do prédio do único cinema da cidade na década de 1950. Moradores relatam que projeções itinerantes em 16 mm aconteciam com frequência na região desde os anos 1930. O primeiro cinema fixo só seria instalado em meados da década de 1940, por Júlio Bertin, num casarão alugado e adaptado para projeção de películas em 35 mm. Assim surgia o Cine Globo que logo teria como sócio a família Levy. Distrito de Palmeira das Missões, Três Passos só seria elevado à categoria de município em 1944 e hoje, com uma população estimada de 23 mil habitantes, é importante polo agropecuário da Região Celeiro, área administrativa no noroeste gaúcho, com 21 municípios, sendo que apenas Três Passos possui sala de cinema. Como explicar a existência e a resistência de um cinema que data da década de 1940 numa pequena cidade no interior do Brasil? Diversos fatores precisam ser considerados na longa trajetória do Cine Globo como, por exemplo, as mudanças tecnológicas do parque exibidor, o apoio do poder público municipal, as políticas públicas de fomento destinadas ao setor pela Ancine, a gestão familiar nessas sete décadas, a criação da Rede Cine Globo com filiais em outros municípios, a diversidade de produtos oferecidos aos clientes para além da exibição de filmes e as ações culturais de formação de plateia criadas por entidades civis com o intuito de dar continuidade à relação entre cidade e cinema. Esse conjunto de fatores econômicos, políticos, sociais, culturais e tecnológicos permitiram que o Cine Globo atravessasse as décadas chegando até 2022 em plena atividade. Dentre tantos elementos a serem considerados, a permanência do cinema também está relacionada à construção de uma edificação com o objetivo principal da exibição cinematográfica e não um local improvisado ou adaptado como acontecia antes. Assim, esse “espaço do sonho”, essa “caixa-mágica” (VIEIRA e PEREIRA, 1982) se instala no imaginário cultural da cidade estabelecendo uma relação até mesmo afetiva entre cinema e audiência (FERRAZ, 2017). Durante a análise dos documentos para a escrita da dissertação sobre o Cine Globo, um detalhe se destacou. Em 17 de setembro de 1954, Elizio Telli, engenheiro civil responsável pela obra, solicita alvará para “a construção de um prédio de alvenaria destinado a cinema, bar e moradia, de propriedade do sr. Alberto Abraão Levy”. Na planta, além da indicação do cinema, do bar e da moradia, é possível notar uma quarta finalidade para o edifício, já que consta espaço para abrigar uma loja. Tanto o bar quanto a loja teriam entradas exclusivas, um indicativo de que poderiam funcionar de forma independente ao cinema. O andar superior tinha a cabina de projeção centralizada e duas salas laterais, sendo que a sala da esquerda só tinha entrada pela porta localizada no térreo, indicando também a possibilidade de ser utilizada por terceiros, gerando receita fora do escopo relacionado ao cinema. Ao projetar o edifício destinado ao Cine Globo, Alberto já apostava na diversificação do espaço para além da exibição de filmes. Durante os anos de crise, entre 1980 e 1990, o bar foi importante fonte de renda para o cinema, assim como o aluguel das salas foi necessário entre 2000 e 2010. Hoje, esses espaços foram incorporados à atividade econômica fim, a cinematográfica, e o bar se tornou uma lucrativa bombonière com pipoca, refrigerante, chocolate, cerveja e uma variada gama de produtos como canecas, camisas, bonés, canetas e chaveiros. Apesar das dificuldades impostas pela pandemia do Covid-19, os Levy seguem administrando o cinema apostando na diversificação, uma receita de família, e tendo em mente a frase cunhada por Alberto Abraão Levy: “Eu construí isso aqui para ser cinema. Não pode ser outra coisa”. |
|
Bibliografia | CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Rio de |