ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | SALVÍFICOS, MOVIMENTO #1 — ENSAIO MNEMôNICO |
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Autor | Eduardo Silva Salvino |
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Resumo Expandido | Refletir sobre raça empregando a mediação no contexto que envolve o mundo informacional é o que se pretende em “SALVÍFICOS, MOVIMENTO #1 — ensaio mnemônico”, um estudo através de um trabalho poético, homônimo, de 2022 que envolve jogo e inteligência artificial; instalação interativa baseada em Arcade game. A obra utiliza do banco de dados da Web e problematiza a ideia de representação, referencial imagético e padronagem, empregando a parametrização para refletir sobre o memoricídio ao convidar os moradores de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, para interagir com a obra. A obra, investe em aprendizado de máquina (machine learning). Com o uso do dispositivo e do anacrônico, o trabalho possibilita ao público interagir com a obra. Assim, utilizando a instalação, o som e o vídeo, a intervenção artística se apropria de software de “reconhecimento facial”. Esta técnica é baseada no fato de que cada pessoa tem um padrão facial característico, por isso a utilização de sistemas de análise profunda de imagem, onde se pode identificar tal indivíduo. Apesar de trazer benefícios, essa categoria tecnológica é bastante controversa. Sendo assim, pode uma audiovisual expandido possibilitar reflexões a respeito de outros padrões figurativos e contribuir para tencionar referências do imagético afro-brasileiro, este mitigado, resultado de constantes apagamentos? Essas questões são de grande valia, pois se atentarmos para os escritos elencados pela historiadora Eliana Laurentino (2015, p.3–5), veremos que a historiografia do Rio de Janeiro, por um longo período, se caracterizou pelos relatos descritivos, seguindo uma ordem cronológica, baseada nas memórias de estrangeiros e nacionais. Nestes relatos destaca-se a despersonalização dos sujeitos na condição de escravizados. Estes seriam, como exemplo, objetos extensivos do maquinário colonial, a ponto de na produção do açúcar a autoria ser dada ao engenho, obliterando os trabalhadores originários da África. Há os templates (aquarelas do, também estrangeiro, Jean-Baptiste Debret [2001]) na interface gráfica. Eles são entendidos como mostruário memorial, reduzido, dos afro-brasileiros, apropriados e colocados como elementos de interação da obra digital-analógica do dispositivo. Este, (AGAMBEN, 2014, p. 25), revelado numa postura reflexiva, nesta sociedade de controle e captura, propondo outras experiências de tempo e espaço. “Salvíficos, movimento # 1 tem como tema a investigação da origem genética da população afrodescendente brasileira, permitindo, porém, que usuários que possuem fenótipos variados, tais como desenho do rosto, cor da pele, dos olhos e dos cabelos, também participem da interação. Daí a pertinência do jogo semântico com o nome próprio “Salvino” — originalmente, em latim, Salvíficus — no sentido comum, “o que salva ou está a salvo” — para dar título à proposição artística. A obra, em certa medida, enfatiza o lúdico ao não deixá-lo circunscrito a um fenômeno cultural, casa de jogos, por exemplo, deslocando o objeto — arcade game — deste circuito para uma galeria situada em um espaço de convivência da Baixada Fluminense. Este “lúdico” (HUIZINGA, 2004, p.193)pode remeter ao par vertigem-simulacro (ilinx-mimicry) em detrimento do par competição-sorte (agon-alea), posto em primeiro plano na organização compreendida como cultura contemporânea. O singular da dupla interface de “Salvíficos, movimento # 1” é que o Arcade game e a interface gráfica digital são suportes para as reflexões a respeito da diáspora africana. Ao permitir que os moradores de Duque de Caxias possam interagir com a proposta, acessando o mencionados templates. As pinturas contêm características fisionômicas dos negros vindos de duas macro culturas: os sudaneses (Nigéria, Sudão e Benim) e os bantos (África Subsaariana). Enfim uma proposta, entendida como audiovisual expandido, como reflexão a respeito dos gabaritos e seus clichês! Narrativas que se dão, em tempo real, a partir da interação do espectador. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O Amigo & o que é um dispositivo? Chapecó (SC): Argos, 2014. |