ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A linguagem de Orson Welles: Sganzerla no limite do herói fechado |
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Autor | Emilio Gonzalez Diez Junior |
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Resumo Expandido | Rogério Sganzerla nunca escondeu a sua admiração por Orson Welles, em O Bandido da Luz Vermelha (1968) já era possível observar com clareza uma infinidade de relações com o diretor americano, mas é a partir de Nem tudo é verdade (1986) que ele passa ocupar uma posição de centralidade. A partir daí, Sganzerla iria mergulhar numa empreitada onde a figura de Welles na sua passagem pelo Brasil torna-se um ponto de vista privilegiado para a compreensão do país e das relações da política cultural. A linguagem de Orson Welles (1991) é o segundo filme dessa tetralogia wellesina iniciada em 1986. O filme apresenta, de maneira virtuosa, em curta metragem, uma transposição para a forma ensaística da estrutura de Citizen Kane (1941). Sganzerla propõe a estrutura de construção do enigma da identidade de um personagem ficcional para a de um personagem real. A passagem da estrutura narrativa de Citizen Kane para a ensaística em A Linguagem de Orson Welles será marcada pela uso de materiais de arquivo. Sganzerla irá compor seu filme a partir de duas grandes matrizes, a primeira composta por materiais do inventário criativo de Welles, são eles os seus programas de rádio e filmes - onde trabalhou como diretor ou como ator. A segunda será composta por materiais que remontam a passagem de Welles pelo Brasil, tendo destaque para os cine-jornais do DIP e outros diversos materiais coletados pelo diretor por mais de uma década. O primeiro ponto de vista apresentado pelo filme é construído a partir da chegada de Welles ao Brasil. Nele observamos um diretor empenhado, através de seu filme, em se conectar com uma cultura estrangeira, mas que enfrenta oposição tanto de Nelson Rockfeller (representante da RKO) como de Getúlio Vargas. No entanto, o segundo ponto de vista irá subverter o primeiro, já que Sganzerla estabelece uma relação entre o presidente Vargas com a do delegado mexicano Vargas de Touch of Evil (1958) e, por conseguinte, de Welles com o policial americano Hank Quinlan. Ao identificar Getúlio com o policial preocupado por zelar pela correta aplicação da lei e dos princípios civilizatórios e Welles com o delegado cheio de vícios, capaz de tudo para atingir seus objetivos, Sganzerla deixa claro que irá se empenhar em seguir o postulado apresentado por Grande Othelo no filme: “A primeira lei da história é não mentir, a segunda não temer dizer toda a verdade”. Sganzerla leva o seu conceito de herói fechado ao limite, apresentando dois caminhos para Welles que parecem irreconciliáveis, fazendo com que o filme se coloque, usando o título de seu próprio artigo, num beco sem saída. Essa dicotomia também aparece no clássico americano, em uma cena, Kane explica para o banqueiro, e seu tutor, que na verdade existem dois Kanes. O primeiro, sócio de diversos conglomerados econômicos e completamente contrário as matérias vinculadas em seu jornal, o segundo, dono do The Inquire e empenhado em transmitir a verdade para os seus leitores, na maioria, explorados pelos mesmos conglomerados. Essa dualidade presente em Citizen Kane não será resolvida através de uma síntese, pelo contrário, Welles irá dobrar a dose, multiplicando as personas de Kane, culminando, ao final, na metáfora dos espelhos. Diante das posições antagônicas geradas a partir das figuras de identificação do universo wellesiano, resta à Sganzerla buscar o olhar do outro, neste caso os depoimentos de Edmar Morel e John Huston. Para dar conta dos espelhos, Sganzerla irá propor a metáfora do carrocel de objetivas. A escolha do objeto em si já resume as impossibilidades do projeto: enquanto os espelhos se multiplica ao infinito, as objetivas da câmera não. A partir desta breve apresentação, propomos pensar as relações entre os diversos materiais resgatados por Sganzerla e seu uso na composição dos pontos de vista, bem como, compreender como se dará a aplicação do seu conceito de herói fechado na transposição da estrutura de Citizen Kane para a forma ensaística em seu curta. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. “O ensaio como forma”. In: Notas de Literatura I. São Paulo: Duas Cidades / Ed. 34, 2003, p.15-45. |