ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | MyFrenchFilmFestival: a presença online de uma cinematografia nacional |
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Autor | EDUARDO N VALENTE |
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Resumo Expandido | Como notado por Marijke De Valck em seu seminal livro para os estudos dos festivais de cinema, “Film Festival: From European Geopolitics to Global Cinefilia”, desde aquele evento que é considerado como o primeiro festival internacional de cinema (o de Veneza em 1932) a questão do cinema como um “representante nacional” já se colocava em destaque: cada filme em competição representava o seu país de origem, colocando em foco temas ao redor de identidade cultural e da promoção dos cinemas nacionais (DE VALCK 2007, p. 24). Desde esse princípio, portanto, o fenômeno dos festivais de cinema já nasce intrinsecamente dúbio: ao mesmo tempo em que nascem defendendo os valores artísticos da linguagem cinematográfica como seu diferencial, buscam abertamente encontrar uma maneira de posicionar as obras que exibem no tabuleiro do jogo econômico da indústria. A partir da criação em 1949 da Unifrance, um órgão de gestão mista entre o Estado francês e os empresários do setor (produtores, distribuidores) voltado exclusivamente para a promoção internacional da cinematografia francesa, o formato de “festivais de cinema francês” será constantemente utilizado ao longo da sua história e nas mais diferentes partes do mundo (Brasil aí incluído) como ferramentas de comercialização e monetarização da produção francesa, enquanto buscam em seus discursos afirmar valores como o da “qualidade” do cinema francês ou, mais tarde, da chamada “exceção cultural”. Como aponta De Valck, isso não é um paradoxo, e sim uma encarnação da natureza dupla típica do cinema. Neste contexto, a criação pela Unifrance do MyFrenchFilmFestival em 2011 representa ao mesmo tempo a continuidade de uma forma de ação consolidada ao longo de décadas, mas também uma novidade considerável. Afinal, embora hoje (em especial no mundo pós-pandemia) a noção de um festival de cinema online pareça quase banal, é importante lembrar que, em 2010, a Netflix acabava de lançar a sua primeira plataforma de streaming, ainda sem alcance global e com atuação exclusiva nos Estados Unidos. Portanto, a ideia de estabelecer uma plataforma de acesso livre em escala mundial estava longe de ser uma prática corrente. A modificação da dinâmica que transfere o “local do festival” de uma cidade ou mesmo sala de cinema específica para a casa e a tela do computador ou televisão de cada espectador teria repercussão considerável em alguns dos principais ativos sobre a realização de um tal evento. Pois conforme nos lembra Christelle Taillibert acerca do formato clássico dos festivais: “Transformar em evento a presença de um determinado filme num lugar em particular se torna o motor do movimento pelo qual os espectadores, movidos por interesses bastante variados, decidem estar presentes a uma mesma manifestação” (TAILLIBERT 2014). Em contato com uma série de dados e estudos acerca do MyFrenchFilmFestival, esta apresentação busca refletir como, após pouco mais de uma década de existência dessa manifestação, a mesma se utilizou de toda uma terminologia e estratégias clássicas do formato de um festival de cinema tradicional (como por exemplo a duração em número limitado de dias; seleção com um determinado número fixo de filmes; entrega de prêmios ao final do evento) como forma de oferecer um “lugar de conforto e familiaridade” para os cinéfilos, ao mesmo tempo em que se buscava engajar novos (e, importante, mais jovens) públicos aos que tradicionalmente consumiam o cinema francês nas salas. Por outro lado, buscamos perceber como hoje, face à explosão de oferta onipresente, das grandes plataformas de streaming aos canais mais especializados e as versões online dos festivais tradicionais, o MyFrenchFilmFestival procura se reposicionar para manter a atenção do seu público cativo e cumprir sua missão de servir de plataforma de promoção do cinema francês. |
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Bibliografia | CZACH, Liz. Film Festivals, Programming, and the Building of a National Cinema. The Moving Image, Volume 4, Número 1, pp. 76-88. University of Minnesota Press: 2004. |