ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Tempestade perfeita, margens e vazantes, faróis desregulados |
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Autor | Daniel P. V. Caetano |
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Resumo Expandido | No seu célebre ensaio “Uma situação colonial”, Paulo Emilio Salles Gomes apontava a mediocridade como denominador comum das atividades relacionadas a cinema no Brasil. Naquele contexto, Salles Gomes ressaltava que não havia qualquer setor que pudesse obter sucesso em superar solitariamente o contexto de pobreza estrutural que marca a sociedade brasileira: “Assim como as regiões mais pobres do país se definem imediatamente aos olhos do observador pelo aspecto físico do habitante e da paisagem, todos os que nos ocupamos de cinema no Brasil dificilmente escapamos a um processo de definhamento intelectual, que mais cedo ou mais tarde acaba por imprimir características reconhecíveis à primeira vista.” (SALLES GOMES, 2016). Avançando seis décadas no tempo, o panorama, embora mais numeroso em matéria de agentes e produções (e portanto mais complexo e nuançado), não é mais alentador nos dias de hoje. A atividade de produção reduziu-se fortemente e se encontra em crise profunda devido à interrupção do modelo de fomento que predominada até poucos anos (com financiamento através do FSA e demais mecanismos de incentivo), intensificada pelas consequências da pandemia de Covid-19. Nesta repetição dramática de fim de ciclo, formatos alternativos buscam ter visibilidade e continuidade em diversas escalas e plataformas, às vezes em modelos radicalmente opostos - seja através do esquema de baixíssimo orçamento, seja através do serviço de produção prestado às empresas de VOD, por exemplo. Paralelamente, no setor de exibição a concorrência do VOD e a as consequências da pandemia estrangularam parte dos modelos alternativos às salas das grandes redes. É neste cenário que, em conjunto com a discussão sobre cotas de tela nas mais diferentes plataformas, vem se desenrolando de forma precária o debate sobre a regulação do modelo de acesso à produção audiovisual por streaming - embora já sejam claros os indícios de que este modelo, que desde a última década vem se tornando dominante em diversos circuitos sociais, pode gerar uma transformação nos modos de acesso à produção audiovisual comparável ao surgimento da televisão. A notória crise entre o setor e os agentes estatais no período intensifica os riscos e gera divisões na sociedade e no setor. Determinados modelos são privilegiados, outros são postos à margem e outros tantos se inviabilizam. Conforme o dito de Gustavo Dahl: “Frequentemente os filmes brasileiros não são filmados, são viabilizados”. Motivada por uma observação participante realizada nos últimos seis anos junto à ABRACI-RJ uma associação representativa de cineastas, a comunicação aqui proposta pretende analisar este cenário à luz de um retorno às reflexões de Salles Gomes. Esta presente comunicação é um desenvolvimento e um prolongamento de outra comunicação já proposta para ser realizada na IV Jornada de Estudos em História do Cinema Brasileiro. O projeto de revisitar o ensaio de Paulo Emilio Salles Gomes aqui se desdobra, então, numa proposta de análise comparativa de modelos de produção, tendências estilísticas e projetos estéticos do contexto histórico em que se dava a crítica de Salles Gomes e o atual panorama. |
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Bibliografia | IKEDA, Marcelo. O Cinema Independente Brasileiro Contemporâneo em 50 filmes. Porto Alegre: Sulina, 2020 |