ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Os documentários de Agnès Varda em diálogo com as artes visuais |
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Autor | Carolina Ribeiro Rodrigues |
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Resumo Expandido | Os anos 60 e 70 foram de grandes aberturas e mudanças nas artes e no cinema. Enquanto no campo das artes, ocorriam as primeiras exposições de arte conceitual, no cinema, o movimento da Nouvelle Vague estava se desenvolvendo na França, tendo Agnès Varda como única mulher cineasta participante e uma das precursoras desse movimento. As diferentes linguagens artísticas começavam a conversar e se fundir, não sendo mais tão claros os limites entre pintura, escultura e as demais artes. Neste contexto, o vídeo, que estava chegando nas mãos amadoras e se popularizando através das câmeras mais leves e dos gravadores portáteis, estava alterando não só a linguagem cinematográfica como, também, as possibilidades artísticas, dando recursos para que a videoarte se estabelecesse. E, junto com a produção dos cinemas de exposição, surgiam também as primeiras teorias do cinema expandido. Para Jacques Aumont (2004), era claro o desejo dos cineastas desse período de igualar sua liberdade artística à liberdade criadora, ao menos suposta, do pintor. Ele compara a criação cinematográfica desse período a uma criação pictórica sobre um quadro branco. Ideia já presente no conceito de câmera estilo, do crítico Alexandre Astrud, que relacionava a câmera a uma caneta, como se esses cineastas “escrevessem com a luz” (Reisz, Millar; 1978). Foi nessa conjuntura de ruptura que Agnès Varda iniciou sua produção cinematográfica, tendo como seu primeiro longa metragem “La Pointe Courte” (1955), considerado por Bazin um filme de vanguarda por sua total liberdade de estilo (Yakhni, 2011). Seus filmes se relacionam de diversos modos com a história da arte, seja pelo uso de conceitos artísticos, réplicas, citações ou encenações de obras de arte, tendo a poesia e a literatura como outros parâmetros importantes de seu universo de referências. Mas é principalmente na forma, a partir dos recursos de montagem que utiliza e a maneira que escolhe criar seus filmes, que Varda se aproxima do fazer artístico das artes visuais. Suas sequências cinematográficas, se destacadas de seus filmes de origem, se assemelham a pequenas videoartes, como é o caso da sequência em que fala da passagem do tempo em seu corpo no filme “Os Catadores e eu”. Fazendo uso de planos fechados e movimentos de câmera quase abstratos, combinados a outros recursos como câmera lenta, sobreposição e planos pixelados das imagens de sua VHS, Varda interrompe a narrativa principal do filme, evocando passagens subjetivas de si mesma. Nesses gestos de montagem, a construção de seu olhar sobre a realidade supera o desejo de uma representação real do mundo. Assim, Varda se aproxima das artes visuais, criando uma linguagem própria e característica, como pretendia o cinema de autor, almejado pela sua geração. Seu olhar poético costura todo filme, através dessa e outras sequências artísticas experimentais, em que fala de si e de suas observações do mundo. Algumas dessas sequências extrapolam as telas dos cinemas, chegando às salas expositivas como videoinstalações, como é o caso, por exemplo, da sequência das batatas em forma de coração que, deslocada do documentário, foi o ponto de partida para a exposição “Patatutopia”. Este trabalho tem como objetivo investigar os recursos estético-poéticos utilizados por Varda na montagem do filme “Os Catadores e eu”, identificando como eles são empregados, suas intenções, provocações e os sentidos que resultam. E, a partir dessa análise, compará-los aos recursos utilizados pela própria cineasta e por artistas visuais contemporâneos em suas obras. Para essa análise, buscaremos apoio em autores que têm pensado o cinema dentro de um regime contemporâneo das imagens e da arte como Philippe Dubois, Raymond Bellour e André Parente. |
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Bibliografia | - AUMONT, Jacques. O olho interminável – cinema e pintura. São Paulo: Cosac Naify, 2004. |