ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Perdi meu corpo: O uso de alegorias nas narrativas animadas. |
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Autor | Letícia Coelho Lenz Cesar |
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Resumo Expandido | A presente pesquisa trata do uso de alegorias nas narrativas animadas. Primeiramente, é importante destacar que a interpretação alegórica populariza-se ainda na Grécia Antiga. Para os antigos filósofos, certos textos eram demasiadamente fantasiosos e, portanto, a aceitação da sua literalidade era absurda, de forma que se passou a buscar os sentidos ocultos e mais profundos que estariam por trás da sua significação. Nesse sentido, a autora Susan Sontag acrescenta: A interpretação, portanto, pressupõe uma discrepância entre o claro significado do texto e as exigências dos leitores (posteriores). Ela tenta solucionar essa discrepância. O que ocorre é que, por alguma razão, um texto se tornou inaceitável, entretanto não pode ser desprezado. A interpretação é uma estratégia radical para a conservação de um texto antigo, considerado demasiado precioso para ser repudiado, mediante sua recomposição. O intérprete, sem na realidade apagar ou reescrever o texto, acaba alterando-o. Porém ele não admite isso. Ele afirma que pretende apenas torná-lo inteligível, revelando seu verdadeiro sentido. (SONTAG,1987, p.3). Dessa forma, entende-se que a interpretação alegórica passa a ser utilizada quando não se pode, ou não se quer, considerar o sentido literal como único, ou como verídico e, portanto, busca-se novos significados para atribuir ao texto. Por outro lado, o uso intencional de alegorias nas artes cresceu ao longo da história como modo de expor a visão subjetiva do autor. Nesse sentido, a construção da linguagem cinematográfica herdou também o uso de metáforas e alegorias, previamente exploradas nas outras formas de arte. O cinema de animação, em especial, carrega consigo o potencial alegórico do cinema e o transcende na construção de mundos que contém as suas realidades próprias. O uso de alegorias e metáforas nas narrativas animadas tornou-se frequente como forma de referir-se a problemas políticos e sociais, ou a temas abstratos para os quais não é possível atribuir uma forma física. Além disso, a animação, desde os seus primórdios, possui como característica uma capacidade subversiva amplamente aceita pelo público. Na narrativa animada, o fantástico e as metamorfoses atuam como leis naturais, dissipando qualquer incredulidade ou distanciamento entre a obra e o espectador. Para Magalhães (2015, p.66) “o animador cria novos caminhos, ele brinca com o real. Ele observa a realidade com a intenção de recriar, modificar, subverter.” Ademais, Paul Wells afirma: “O filme de animação permite que o (s) cineasta (s) sejam mais expressivos e, portanto, mais subversivo do que é prontamente reconhecido. Quase conscientemente, os animadores, ao constatar que eles, e seus trabalhos, são marginalizados e/ou destinados a públicos inocentes, inapropriados ou acidentais, usam este espaço aparentemente desguardado para criar filmes com prazeres superficiais e profundidades ocultas.” (WELLS, 1998, p.6) O filme Perdi Meu Corpo (2019), do diretor Jérémy Clapin, parte de uma estética realista no que se refere a formas e movimentos, mas se utiliza de uma narrativa fantástica, na qual uma mão decepada parte em busca de seu dono pelas ruas de Paris. Permeando diversos temas, a animação fala principalmente sobre conexão, mesmo que isso nunca seja mencionado de forma direta. A temática central fica evidente para o espectador quando o filme narra a história de afetos de um jovem francês, enquanto mostra, de forma paralela, a jornada de sua mão em busca de conectar-se novamente com o seu corpo. Assim, o uso da alegoria na narrativa animada de Perdi Meu Corpo busca situar o público dentro do tema abstrato, a partir dos diversos recursos que já foram mencionados anteriormente. A alegoria funciona de forma ainda mais efetiva na animação porque o recurso do fantástico para evocar certas ideias não causa estranhamento na audiência, pelo contrário, a fortalece, fato que poderia enfrentar mais resistência em um cinema live action. |
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Bibliografia | MAGALHÃES, Marcos Amarante de Almeida. O tempo do animador. Rio de Janeiro, 2015. 115 f. Tese (Doutorado em Design) – Departamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2015. |