ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Casa de Luiza: memória e afro-fabulação |
|
Autor | Rodrigo Antonio Silva |
|
Resumo Expandido | Casa de Luiza: memória e afro-fabulação, é uma pesquisa-obra em Artes, em desenvolvimento, que parte da reflexão e construção de narrativas visuais de famílias negras no cinema documentário, tendo o falecimento de minha avó como disparador do processo de coleta, colagem e diálogo de distintos vestigios de memória. Para o desenvolvimento da pesquisa, adoto como base discursiva vozes-mulheres, pensadoras e artistas, a saber: Beatriz Nascimento (1989) e sua definição do corpo negro como corpo-memória; a escrevivência de Conceição Evaristo (2005), que me auxilia a entender a necessidade e a potência do uso da minha voz e corpo – no dominínio da escrita fílmica; e a perspectiva do tornar-se sujeito de Grada Kilomba (2019), para compreender este aspecto na afirmação de minha ação como pesquisador-artista. Num fabular fílmico, passado, presente e futuro são instanciados na compreensão de uma ancestralidade da diáspora que nasce da fuga como liberdade, em um constante recriar de verdades a ser apresentado em formato de texto de artista conforme conceitua Rosana Paulino (2011). Ao retornar a ilha de Marajó, e revisitar a casa de minha avó, observei ausências, busquei por um passado que não vejo. A não materialidade de uma história familiar, entre fotos, vídeos e gravações caseiras, tão presentes em filme documentários do estilo performático, como conceituam Bill Nichols (2007) e Thais Blank (2015), esta última se referindo ao contexto brasileiro, me levaram a encontrar, na casa, o ponto de partida para a (re)construção da história de minha família. A escrevivência desta história está nas paredes, nos rastros de vida ali deixados, em imagens dispersas, em vozes múltiplas, fios de vida ainda por alinhavar. Proponho com a pesquisa-obra, a produção de curtas-metragens, em um formato de trilogia, experimentando formas e descobrindo no processo, caminhos do fazer do meu Orí , na perspectiva de Beatriz Nascimento (1989). Para a autora, o Orí contempla as dimensões temporais, de passado, presente e futuro, em uma convergência de tempo, e construção de memória ritualizada, na qual a afirmação da identidade individual e coletiva da população negra se dá no encontro e reconstrução da dignidade e da humanização, frente a um sistema que nos escravizou, silenciou e reinventou formas de exploração. Ter o Orí como metodologia de construção das narrativas aqui propostas, perpassa por pontos fundamentais do debate de aquilombamento. A proposta do aquilombar apontadas por Beatriz Nascimento aqui são vistos como possibilidade de etapas da criação artística, posto: o reconhecimento de que o exílio nos leva a uma perda da imagem; o recuperar a imagem de si para recuperar a identidade e assim tornar-se visível para que nosso reflexo, seja o reflexo de um coletivo. O aquilombar me convoca a articulação de três verbos criadores para o fazer do meu Orí: O ser, - meu reconhecimento como sujeito de minha própria história, a celebração do encontro do corpo-memória que fala e constrói o sentido de comunidade com a produção de imagens de uma família no Marajó-; o tornar- se, - afirmação de um eu-negro artista e o repensar das prerrogativas do cinema performático no documentário, como forma de suplantar a noção de representação no campo do cinema-; e o reconhecer-se, - como parte de um movimento do cinema negro contemporâneo, que refaz, reconstrói e pauta novas formas de uso da linguagem cinematográfica para refazimento da compreensão do lugar do negro nas artes no Brasil. Os três verbos de ação embasam uma reflexão central: como a produção de obras audiovisuais sobre minha família dialoga com outras obras do cinema negro brasileiro contemporâneo e, como essas narrativas-quilombo, imagens-acolhimento, fazem frente ao apagamento e silenciamento da subjetividade do negro, e afirmam o direito à memória, para além das narrativas fincadas no afropessimismo presentes na cinematografia nacional. |
|
Bibliografia | DEUS, Zélia Amador de. Os herdeiros de Ananse: movimento negro, ações afirmativas, cotas para negro na universidade. 2008. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) –Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal do Pará, Belém, 2008 |