ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | No tempo da oralidade: estética e crítica em Apichatpong |
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Autor | EDUARDO CHATAGNIER BORGES PEREZ |
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Resumo Expandido | A presente proposta aborda a estratégia de diluição do narrador no filme Misterioso Objeto ao Meio Dia, do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul. Ao estruturar seu filme a partir de histórias inventadas e contadas por aldeões entrevistados por toda Tailândia, ele propõe um questionamento sobre verdade e realismo no entrecruzamento de documentário e ficção. Pautado em narrativas orais, o filme incorpora ainda estratégias construtivas que opõem-se à rigidez causal da escrita, permitindo uma reflexão sobre a transitoriedade inerente ao discurso e levantando questões que tangenciam a problemática do lugar de fala. Utilizando-nos do conceito de "movência", trabalhado por Paul Zumthor, buscaremos refletir sobre a flexibilização temporal e narrativa que o primeiro longa metragem de Apichatpong propõe ao incorporar o processo errante do filme em sua forma final. Mais ainda, ao fazer da errância sua principal linha de sustentação, o filme se abre para diferentes perspectivas (Eduardo Viveiros de Castro), e tenciona, por um lado, o cinema etnográfico clássico ao deslocar seu ponto de interesse para as formas narrativas latentes e não para os conteúdos manifestos passíveis de registro imediato e, por outro, liberando a própria forma cinematográfica de sua duração final e fatal determinada pela duração cronológica da obra ao instituir um espaço-tempo flexível, determinado pela percepção individual de cada um, ao fazer da memória, e não do registro, o grande elemento organizador do filme. Reencarnada agora em forma trabalhada e premeditada, o segundo longa-metragem do diretor, sua primeira ficção, vê as estratégias construtivas do primeiro filme reencarnadas em um duplo bem acabado mais identificável, muito embora não sem suas tensões, enquanto estrutura própriamente ficcional. Eternamente Sua, conta a história de Roong e Min, um casal que foge da vida opressiva da cidade para uma tarde amorosa na floresta. O filme, em sua beleza e tensão, já não se vale da explicitação da sua forma de construção, mas incorpora a latência adquirida 100% em sua forma. O deslocamento narrativo se dá, dessa vez, pela surpresa e pela duração (Henry Bergson), que abrem espaço para o surgimento de temporalidades específicas e não utilitárias, "temporalidades imiscíveis" (Cua Bliss Lim) que se encontram e se chocam no ambiente da floresta. Desse choques advém boa parte da força política, da crítica ao colonialismo, da reflexão sobre a autonomia de modos de vida não dominantes, que se faz presente por toda obra do cineasta. |
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Bibliografia | ALCOFF, Linda. The Problem of Speaking for Others. Cultural Critique, nº20, Inverno. 1991-1992 |