ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Afetos desestabilizados e ruínas da intimidade em A Terra e a Sombra |
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Autor | Wendell Marcel Alves da Costa |
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Resumo Expandido | Como as ciências humanas podem colaborar, conjuntamente, para compreender imagens fílmicas destinadas a produzir imaginações simbólicas sobre cidades? Nossa proposta é indicar uma abordagem socioantropológica filosófica de filmes urbanos contemporâneos que tem sonhado, imaginado e vivido cidades sul-americanas. Esses filmes colaboram para criar um imaginário urbano e simbólica da noção de cidade sul-americana a partir da construção de paisagens culturais que revelam relações sociais fragmentadas, destituídas de afetos, construídas por memórias em processo de desaparição. Nesse contexto, A Terra e a Sombra revela uma noção sobre relações sociais destituídas de laços e afetos. Neste filme, as pessoas estão movidas por interesses predominantemente mecânicos da vida cotidiana, sustentadas pela organicidade do trabalho laboral no campo. A figura da casa enquanto espaço afetivo estrutura imagens poéticas acerca da memória da herança familiar, dos sentimentos de mágoa e rancor, e dos afetos desestabilizados (BACHELARD, 1988, 1993). A Terra e a Sombra se constitui enquanto uma obra que denota a capacidade associativa das imagens fílmicas em conjurar estruturas sentimentais através de códigos da intimidade (DURAND, 1997). Assim, entendemos afetos no sentido de que as imagens fílmicas elaboram narrativas acerca dos relacionamentos sociais desestabilizados em espaços pequenos, cotidianos e simbólicos (LIPOVETSKY, 2016; ROSA, 2019; MINOIS, 2019). Por sua vez, entendemos ruínas no sentido de que muitas das paisagens sociais retratadas no filme mostram realidade imaginárias aonde personagens estão envolvidas em relacionamentos em desaparição, estruturados por afetos desestabilizados (DIDI-HUBERMAN, 2011; RANCIERE, 2005; BRUNO, 2002). Logo, afetos desestabilizados transformam quaisquer espaços em ruínas, em lugares deformados, em desaparição. Aqui, a noção de cidade sul-americana contemporânea está representada a partir da lembrança das pessoas que saíram do campo, e que, em algum momento, regressam a esse lugar. A mobilidade cidade-campo enquanto regresso a um espaço em ruínas está engajada em afetos desestabilizados, em relações desfeitas e que, agora, em A Terra e a Sombra, devem ser refeitas. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988. |