ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | As muitas faces de Deus - Sintonia, Milagres de Jesus e Divino Amor |
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Autor | Leandro Rocha Saraiva |
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Resumo Expandido | O objetivo desta proposta é a comparação de três representações audiovisuais, ficcionais e contemporâneas, da experiência evangélica brasileira: uma narrativa histórica, confessional e televisivo-industrial (Os Milagres de Jesus, minissérie da Rede Record 2014-2015), uma ficção futurista, distópica, autoral e irônica (o longa Divino Amor, 2019, direção de Gabriel Mascaro), e uma narrativa realista, combinando traços de gêneros - melodrama, thriller criminal, musical e “coming of age”-, numa parceria de produção entre indústrias, internacional e nacional-periférica (Sintonia, 2020-2021 - série original Netflix, criação e direção geral de Kondzilla, diretor do portal homônimo). O crescimento da fé evangélica, com predominância das denominações neopentecostais, é amplamente reconhecido como fenômeno crucial para o entendimento da sociedade brasileira atual. SOARES (2019) considera a ampla e caótica urbanização do país, a partir da segunda metade do século XX, e o intenso trânsito religioso deste período, como um mesmo “fato social total”, no sentido de Mauss. O crescimento evangélico seria o último capítulo (até aqui) deste processo, correlato à inserção precária mais profunda do país na lógica neoliberal. Segundo ALMEIDA (2006), a experimentação religiosa combinatória convive com o vínculo mais exclusivista dos evangélicos. Essa identidade própria, apartada, rompe com certa fluidez da fé e subjetividade popular brasileira (como se vê, por exemplo, em Santo Forte, Eduardo Coutinho, 1999), mobilizando um “ethos da guerra” (VIDAL, 2015), que parece afirmar-se como um solo comum, sobretudo entre os pobres, pressionados por uma nova versão da insegurança estrutural, agora sob a égide neoliberal. Abrem-se aí possibilidades para os conhecidos usos políticos (FONSECA, 2021) desses afetos guerreiros, de negação radical do outro (SOARES, 2020). Mas o utilitarismo político conservador, calcada na negação protofascista da alteridade, não esgota, é óbvio, a complexidade de matizes da experiência evangélica nacional, não apenas pela multiplicidade de denominações, mas também pela intrínseca polissemia de um fenômeno tão vasto. A dramaturgia audiovisual, cinematográfica e televisiva, é parte pequena, na verdade, de um quadro muito mais amplo, dentro do qual, mesmo o leque de “obras” culturais, na acepção mais corriqueira (videoclipes, programas de pregação - na tv, rádio ou internet -, publicações etc), é ainda parcial, se tivermos em perspectiva o universo das experiências vividas por dezenas de milhões de crentes. Apesar do interesse, e até necessidade, de uma exploração horizontal desse “ecossistema” da comunicação evangélica, nosso recorte aqui é mais modesto, verticalizado em três obras audiovisuais, escolhidas como modos de formalização ficcional dessa experiência de massa contemporânea. Divino Amor constrói um Brasil distópico, extrapolando a tendência do “projeto de poder” (MACEDO, 2008) evangélico para uma situação de rotinização em forma de fundamentalismo teocrático e tecnocrático, que incorpora e funcionaliza a sexualidade dentro de um quadro de controle dos corpos, almas e famílias. Milagres de Jesus aposta na narrativa histórica, sacra e canônica, sublinhando em tom realista a condição social dos primeiros adeptos do messias, como trabalhadores, elidindo assim a retórica de confronto contemporâneo, buscando uma universalização humanista da mensagem cristã. Sintonia, em bases ainda mais realistas, explora uma vasta gama de ambientes, situações e personagens que compõem um sólido panorama da vida na periferia urbana, apresentando – não sem alguma estereotipização- a opção evangélica como uma das grandes alternativas, práticas e existenciais, para os jovens pobres, junto com o crime e o funk. É importante ter em perspectiva as bases de produção, e distribuição, das três obras: um longa autoral, uma minissérie da Rede Record e série produzida por um grande portal de funk, para a maior das plataformas de streaming. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Ronaldo de. A Igreja Universal e seus demônios. São Paulo: Terceiro Nome, 2009. |