ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA: Singularidades tradutórias e interpretativa |
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Autor | Maria Cristina Mendes |
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Resumo Expandido | Ao problematizar as fronteiras entre distintos campos de pesquisa, as correlações entre literatura e cinema revelam singularidades dos processos tradutórios e destacam qualidades das obras analisadas. No afã de contribuir para a sistematização e aprofundamento de metodologias de pesquisa e interpretação de filmes adaptados trago para a discussão alguns teóricos que abordam o tema, criando um panorama, ainda que parcial, dos estudos que validam tal campo de pesquisa. Parto da premissa de Bazin (2014), que afirma ser possível a permanência da alma de uma obra em outra encarnação e adoto o conceito de alma estabelecido por Morin (2014), que vincula esta parte intangível do corpo à participação afetiva que estrutura a fruição cinematográfica. Destaco, de saída, que a adaptação e a tradução estão atreladas à questão mimética desde a antiguidade: para Platão a mimese pode gerar reflexão e para Aristóteles, ser fonte de prazer. Presença constante na pintura e na escultura européia, a repetição de temas não representa problemas até o advento da Arte Moderna com suas exigências de originalidade e inovação; nas primeiras décadas do cinema, empréstimos da literatura, teatro e dança também são recorrentes. Nos anos 1920, Epstein defende um cinema puro, da mesma forma com que artistas e teóricos de outras artes buscam definir suas respectivas especificidades. Na década de 1940, Bazin (2014) valoriza a impureza nas trocas sígnicas entre cinema e mundo, afirmando que a alma dos romances está na ambientação ou personagens. A partir de 1980, com a disseminação dos valores pós-modernos, a citação e a apropriação são enaltecidas e, no que concerne à adaptação cinematográfica, a correlação de texto literário e filme recebe significativa atenção teórica, enriquecendo as análises fílmicas. De acordo com Stam (2008), a tradução da literatura para o cinema implica uma transposição semiótica que pode ser pautada no dialogismo bakhtiniano; seus estudos, que incluem o cinema brasileiro, são indispensáveis para o entendimento de aspectos socioculturais nacionais. Hutcheon (2013) afirma que traduzir é contar, transmutar é mostrar e transcodificar é interagir; para ela, as indagações que se deve dirigir ao objeto adaptado são: O que? Quem? Por quê? Como? Onde? Quando? Segundo Sanders (2008), as transposições criativas explicitam a resistência e a sobrevivência do texto fonte, realizando complexos processos de filtragem e criando redes intertextuais de campos de significação, cujas lacunas devem ser o foco da atenção; na identificação de gênero e diante das demandas do meio, do talento do adaptador e dos demais intertextos, potencializa-se a resistência e sobrevivência do texto fonte, já que todos os textos se conectam de algum modo a uma rede de textos e de formas de arte existentes. Andrey (afirma que a intersecção preserva a singularidade do original e que a transformação reproduz algo de essencial no que concerne ao material adotado. Transmutação para Plaza (2008) as traduções intersemióticas se caracterizam pela migração sígnica e, de acordo com Pignatari (1971), as traduções abrem caminho para novos relacionamentos e alterações de códigos. Campos (1981) enfatiza que, ao desafiar a inesgotabilidade da arte em sua recriação a partir de outros meios de expressão, a tradução estabelece estreitos vínculos com a transluciferação, numa ação que conta com o auxílio de Agesilaus Santander, anjo caído que protege aquele que almeja, em última instância, superar as obras originais. A abordagem comparatista de textos literários no cinema, portanto, lança luz à modos inusitados de organização de formas e conteúdos, sistematizando parentescos entre diferentes obras, repotencializando sentidos estéticos e discursos artísticos. |
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Bibliografia | BAZIN, André. O que é o cinema? Trad. Eloísa Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2014. |