ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Outro modo de olhar para o trauma colonial no trabalho de Aline Motta |
|
Autor | Emmanuely Ribeiro de Abreu |
|
Resumo Expandido | Inicio esta proposta lembrando uma frase de Saidiya Hartman extraída do ensaio Vênus em dois atos, sobre imaginação, arquivo e escravidão. Ela diz: “Essa escrita é pessoal porque essa História me engendrou, porque ‘o conhecimento do outro me marca’” (2020, p. 18). Assim também me atravessa a obra da cineasta e artista visual Aline Motta, sobretudo a trilogia sobre a qual vou me debruçar, composta pelos curtas Pontes sobre Abismos (2017), Se o mar tivesse Varandas (2017) e (Outros) Fundamentos (2017-2019). A artista está implicada nas obras e seu fazer artístico parte das vivências do próprio corpo, das inquietações sobre sua árvore genealógica, as questões que envolvem memória, pertencimento e as lacunas que constituem sua história familiar. Narrativas pessoais que parecem falar também de uma vivência coletiva. Segundo Conceição Evaristo (2020), a escrevivência não está atrelada à ideia de uma escrita narcísica, focada em um “eu” individual sozinho. Ela parte dos corpos negros, de vivências pessoais que refletem numa experiência que é também coletiva. O conceito, a priori, era relativo à literatura produzida por mulheres negras, mas expandiu e, sendo assim, o que propomos é pensar se é possível sua aplicação à produção artística multilinguagens de Aline Motta que elabora seu trabalho com fotografia, cinema, vídeo, instalação, performance e arte sonora. Dito isto, tenho como objetivo questionar se a trilogia de Aline, elaborada nas brechas da história oficial, pode ser compreendida como uma forma de escrevivência audiovisual. Grada Kilomba ressalta a importância de criar outras linguagens como um processo de reinvenção, de descolonização. Segundo Kilomba, as disciplinas clássicas tradicionais não dão conta de contar as histórias de pessoas negras porque são disciplinas cuja gramática moderno-colonial-ocidental categorizou pessoas negras como não-humanas. Então Kilomba propõe desobediências poéticas que também são epistêmicas. E as escritas a partir do corpo negro, escrevivência, seriam um caminho possível para dignidade e para reivindicar “o direito de ser sujeitos não apenas de nosso próprio discurso, mas de nossa própria história” (GONZALEZ, 2020, p.141). |
|
Bibliografia | EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância L.; NUNES, Isabella R. (Org.). Escrevivência: a escrita de nós. Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. 1. ed. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. cap. 2, p. 26-46. |