ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A alegria e o tédio: o cinema de horror no recente contexto brasileiro |
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Autor | Gabriel Perrone Vianna |
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Resumo Expandido | Para Pryston (2008), a cultura contemporânea tende a considerar prioritariamente as configurações da juventude na construção de seus produtos culturais. No cinema, os filmes articulam formas discursivas de reapresentação de culturas juvenis sem a necessidade de relatar ou documentar fatos e personagens reais. Como pontua Carrière (2005), a relação entre ficção e realidade transpõe barreiras, de modo que o discurso ficcional consegue agregar muitas vezes elementos do cotidiano político, social e cultural, de alguma forma também registrando grupos e identidades que habitam determinado contexto. Dentro dos movimentos atuais de reconhecimento e pluralidade cultural, começou-se a compreender a juventude não mais de maneira singular, a concepção de juventudes está atrelada à noção de sujeitos sociais, culturais e políticos. Como bem define Martín-Barbero (2008), “os jovens são os senhores eternos do presente”, assim sendo, “o mundo está diante de juventudes cujas sensibilidades respondem às alternativas de sociabilidade que permeiam tanto as atitudes políticas quanto as pautas morais, práticas culturais e gostos estéticos” (MARTÍN-BARBERO, 2008, p. 13). A partir desses registros que se torna mais evidente as particularidades do espectro de interações sociais que permeiam o universo juvenil, suas identidades, linguagens e vivências. Essa juventude, descendente da geração pós maio de 68, no Brasil, também, herdeiros de reabertura democrática pós-ditadura militar, foi estimulada à liberdade sobre tudo, a liberdade ao pensamento, à manifestação do pensamento e à liberdade de imaginar, si imaginar e imaginar as construções sociais que defendem. Ao dar espaço à juventude, parece ter emergido uma sensação de ausência. A isto, abre-se lugar às inseguranças, ao estranhamento, ao insólito, e por que não ao sobrenatural, já que em termos de imaginação, qualquer assombro encontra lugar? A atual ascensão de filmes que se articulam com o gênero do horror no atual cinema brasileiro pode ser analisada pelo percurso não do medo à repressão, mas do inquietante, conceito tratado por Freud (1919), ante à liberdade. Em um ambiente desfamiliarizado, analisar como os elementos fílmicos incidem na construção de uma narrativa insólita em A alegria (2010), de Felipe Bragança e Marina Meliande, é compreender a construção da narrativa associado ao juvenil: a tentativa de quebra do tédio. As ausências parentais, deixando a casa livre para toda sorte de ações do grupo de protagonistas, materializada na posse irrestrita dos bens patrimoniais da família, o desejo de liberdade dos jovens, por um final de semana que seja, é desmembrado na casa, como um espaço sem regras. Não é possível determinar com clareza uma barreira entre o real posto e a incidência do sobrenatural. Então, se a proposta fílmica já gera um estranhamento por si só, como tecer uma análise conclusiva em torno do sobrenatural? Para Sartre (1943), a pertinência de um fato sobrenatural permite duas aproximações não excludentes: ou naturalizamos o insólito ou admitimos que o insólito está em toda a parte, mesmo que não haja confirmações empíricas de sua existência. Assim, atribuindo aos seus próprios corpos poderes antes inimagináveis, não existe conflito nem hesitação quanto a presença dos elementos insólitos, mas a sua naturalização e, dessa forma, a filiação do insólito ficcional se dá majoritariamente pelo viés do realismo maravilhoso. A alegria se propõe a um encontro do cotidiano com a possibilidade de extravasá-lo no fantástico. Excede a ideia racional de causa e efeito e encontra lugar nas palavras de Emiliano Fischer Cunha (2014), “são filmes que se aproximam a partir da capacidade de produzir atmosferas sensoriais, aparentemente despreocupados com um desenho narrativo sólido. [...] a intenção é se explorar o poder do gestual, do cotidiano, dos afetos e das relações entre os homens e do homem com os espaços” (CUNHA, 2014, p. 12). |
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Bibliografia | FREUD, Sigmund. The ‘uncanny’ in: The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (1917-1919). Londres: Vintage, 2001. |