ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Safi Faye e a etnografia na ficção |
|
Autor | evelyn santos sacramento |
|
Resumo Expandido | Considerada a primeira cineasta africana a produzir cinema comercialmente, Safi Faye vem de uma grande família camponesa da aldeia Fad’jal (localizada ao sul de Dakar). A realizadora tem o campo não só como território umbilical, como também como espaço de pesquisa e temática para seus filmes, analisando de perto a vida dos aldeãos, denunciando a condição de subalternidade em que são submetidos, seja pelas politicas governamentais, ou a seca e fome que se alastra pelos interiores. No ano de 1972, Safi Faye muda-se para Paris e inicia os estudos em Etnologia na École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales, e, no ano seguinte, ingressa na escola de cinema Louis Lumière. Foi neste período que a realizadora fez seu primeiro filme , o curta-metragem La Passante (1972), inspirado no poema A une Passante (1857), de Charles Baudelaire (1821-1867). Em 1973, ela dá início às filmagens do documentário Kaddu Beykat (1975), onde reflete sobre a situação econômica do Senegal nos anos 70, denunciando a difícil conjuntura de famílias agricultoras, este filme coincide com as pesquisas acadêmicas sobre o seu território de origem que ela vem desenvolvendo enquanto estudante. Em 1979, Faye obtém o título de doutora em etnologia pela Universidade de Paris VII, na Sorbonne e posteriormente é convidada a integrar o corpo docente da Universidade Livre de Berlim. Safi Faye propõe em seus documentários um modelo narrativo observacional, ao mesmo tempo em que a relação de intimidade é colocada em jogo, a relação de intimidade do olhar que é estabelecida pela autora que fala de um “nós”, a partir de uma voz que é sua, de seus familiares e companheiros de aldeia. Nesse sentido, sua pesquisa antropológica e os filmes possibilitam uma reflexão sobre si, sobre o território, e sobre seu lugar de africana em constante movimento, que vai e que volta. Safi Faye encerra sua filmografia com o longa-metragem Mossane (1996), seu único filme de ficção em que ela aborda sobre a condição da mulher africana. Embora seja uma obra totalmente ficcional, a realizadora se apoia numa construção etnográfica para criar mitos, que eu chamo aqui de etnografia na ficção. Se nos filmes anteriores ela flerta com a ficção para construir suas narrativas documentais, aqui ela fez o contrário, ao estabelecer um jogo com as imagens etnográficas, ao invés de usar o filme para a investigação antropológica, ela usa a estética, que não só vai muito além de um uso mimético e representacional da câmera, mas que desvia o conhecimento antropológico (DE GROOF, 2018). Safi Faye transita entre extremidades e espaços de fala que foram demarcados pela colonização. O primeiro é esse olhar íntimo sobre suas vivências no interior da aldeia, a relação com a família e com a comunidade. E o outro é o olhar a partir de sua trajetória pela diáspora. Foi a sua saída da aldeia que a permitiu ter um olhar-duplo sobre seu território, e esses aspectos provocaram transformações fundamentais que ficaram expressas em sua obra. Ela não só realizou pesquisa sobre sua comunidade, como também fez filmes sobre/com ela, no momento em que fez um percurso de aprendizado e de pesquisa. |
|
Bibliografia | DE GROOF, Matthias. Relação do filme etnográfico com o cinema africano: Safi Faye e Jean Rouch. Antropologia Visual , v. 31, n. 4-5, 2018. p. 426-444 |