ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Análise do filme "Laurence Anyways" na perspectiva do transcineclipe |
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Autor | Leandro Gantois Luna |
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Resumo Expandido | O que significa estar na borda? Na fronteira? Em uma situação limítrofe? Não pertencer? Ou um entrelugar, aqui utilizando o conceito utilizado pelo teórico Homi K Bhabha (2003) ou o declínio das identidades centrais apontado por Stuart Hall (2003) ao descrever a fragmentação na pós-modernidade. Esse lugar de não definição reverbera o pensamento de Walter Benjamim (2010). Do pensador alemão, que morreu na fronteira da França com a Espanha fugindo do avanço nazista, temos essa subjetividade de estar no meio e de nunca terminar o trajeto. Esse não pertencer dialoga com as ideias da teoria queer propostas por, entre outras autoras, Judith Butler (2003) quando a pensadora estadunidense e pós-estruturalista questiona modelos de gênero e de sexualidade, a partir de uma ideia de performance. Na cânone obra sobre sobre o queer, "Problemas de gênero - feminino e subversão de gênero", publicada nos Estados Unidos em 1990, mas traduzida apenas em 2003 no Brasil, Butler recorre a figura de Divine, musa do diretor americano John Waters, para caracterizar as drag queens com o potencial político para misturar os limites entre masculino e feminino, ilustrado na capa e no título da obra, uma referência ao filme "Problemas femininos" (John Waters, 1974). Esse estar no meio, apontado pelo indiano nascido no império britânico Babbha, no jamaicano-inglês Hall, no alemão judeu e de esquerda Benjamim e na mulher lésbica e cis-gênera Butler tem como potencial o dialogo com a noção de intermidialidade, método histografico utilizado para análise fílmica. A intermidialidade, através de seu estudo do cinema, expõe o caráter impuro da chamada sétima arte, a exemplo do que fez a pesquisadora Lúcia Nagib (2013) ao retomar a defesa feita por André Bazin (2003). O cinema, uma vez entendido como uma arte essencialmente moderna, teria em sua base, a ideia de mistura de artes, mídias, referências, expressões e tradições culturais. Desse meio do caminho, surgem os apontamentos feitos por Agnes Petho (2011), ao descrever a intermidialidade como uma paixão pelo in-between. O foco deste trabalho é pensar a relação entre cinema e videoclipe, tendo como objeto de estudo o filme "Laurence Anyways" (Xavier Dolan, 2012). Para tanto, será trabalhado o conceito de transcineclipe, apontado pelo pesquisador Rodrigo Oliva. Nesse sentido, o objeto será pensado a partir da noção de intermidialidade e será pensado de que maneira a obra cinematográfica de Xavier Dolan está no meio do caminho, na borda e na fronteira. Uma borda material entre o cinema e o videoclipe, mas uma fronteira subjetiva também. Embora o foco do artigo será a análise fílmica, também se faz necessário o apontamento que essas relações não acontecem apenas na forma. 1. Na borda entre o cinema e o videoclipe Ao longo da história do cinema, o som foi utilizado como marcador importante dentro da narrativa fílmica, muito especialmente no cinema de gênero, como o musical com Vincente Minnelli e o melodrama com Douglas Sirk na década de 1950. Mas é com o advento da MTV nos Estados Unidos, a partir da década de 1980, que o videoclipe, em sua fusão da imagem e do som, começa a ser pensado como um gênero. A partir dessas relações entre o cinema e o videoclipe, o pesquisador Rodrigo Oliva (2017) conceitualizou o transcineclipe e o transclipecine. buscando apontar como acontecem essas relações entre o cinema e o videoclipe. No caso do transcineclipe, Oliva apresenta como a fusão entre imagem e som reverbera uma poética que remete à montagem de Eisenstein. Por meio daquilo que o pesquisador chama de paisagens videoclipes, há uma alteração temporal. No presente trabalho, o conceito de transcineclipe será essencial para fazer uma análise fílmica da obra "Laurence Anyways" de Xavier Dolan. O cineasta canadense, conhecido pelo uso da cultura pop em sua filmografia, expande o uso da música atrelado ao ritmo e à montagem, criando novas possibilidades temporais e espaciais. |
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Bibliografia | BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. |