ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Como o cinema pode aproveitar criativamente a improvisação teatral |
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Autor | Mauro Giuntini Viana |
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Resumo Expandido | Na recente produção cinematográfica ficcional brasileira é perceptível a busca por encenações cada vez mais envolventes, o que demanda um constante aperfeiçoamento dos métodos de direção de atores. Nota-se uma tendencia de substituição do entendimento da atuação como restrita à memorização de diálogos na interpretação de personagens esboçados nos roteiros, por uma abordagem mais dinâmica, que valoriza descobertas nas trocas em fluxo durante os processos de criação dos filmes. Esta mudança inclui os atores como cocriadores das obras fílmicas, abrindo caminho para aproximações de práticas urdidas nas artes cênicas. Entre estes procedimentos adquiridos do teatro, destaca-se a improvisação, por ser fundamentada na interatividade e na espontaneidade. O ato de improvisar remonta aos ritos religiosos da Antiguidade e, em alguma medida, todas as formas de arte se valeram de métodos improvisacionais em suas evoluções. No teatro, o principal movimento notabilizado pela improvisação foi a Commedia dell’ arte, um gênero popular, caracterizado por admirável vitalidade e liberdade. Graças ao sucesso desta manifestação artística, a improvisação ganhou relevância no teatro moderno e foi utilizada pelos mais importantes encenadores da segunda metade do século XIX e do XX, tais como: Stanislavski, Eugênio Barba, Grotovski e Peter Brook. No cinema moderno, alguns realizadores de vanguarda lançaram mão da improvisação como instrumento propulsor de suas mise en scenes. No cinema contemporâneo, constata-se uma miríade de apropriações de técnicas de improvisação no desenvolvimento de estéticas de direção afeitas às necessidades expressivas da atualidade. Há quase três décadas dirigindo atores, bem como ensinando aprendizes do ofício, tenho experimentado regularmente técnicas de improvisação, originárias no teatro, como ferramentas dinamizadoras da atuação. Pelo seu teor estimulante da intuição e da espontaneidade, a improvisação oferece manancial fértil para construção de personagens e desenvolvimento de cenas. Além disso, as técnicas de improvisação proporcionam alternativas para atenuar os nocivos desgastes da encenação fragmentada em planos e captada com muitas repetições, por vezes fora da ordem cronológica, que é a maneira dominante de se filmar no cinema ficcional. A reflexão proposta, baseada na prática, pretende evidenciar como jogos de improvisação podem potencializar o intercâmbio entre direção e elenco desde a etapa de seleção de atores, passando pelos ensaios, chegando até as filmagens. Durante a seleção de elenco, jogos de improvisação mostram-se potentes na criação de testes que favorecem a direção na análise de adequação dos atores candidatos aos papéis dos filmes. Como os testes de elenco são normalmente feitos com equipe reduzida e poucos recursos cênicos (ausência de cenário e objetos de cena, outros atores, iluminação elaborada, etc.), a improvisação se apresenta como técnica promissora na ampliação de possibilidades de a direção interatuar com os candidatos aos papéis. Um dos jogos que desenvolvi para potencializar a fase de escolha de atores em projetos audiovisuais, consiste na direção dar voz à consciência da personagem, visando incrementar o diálogo direção/elenco nos testes. A atividade principia com a transmissão de informações básicas sobre a personagem e a trama. Em seguida, propõe-se um conflito presente no enredo para que se experiencie variações de abordagens. A partir daí, a direção assume a voz da consciência da personagem, estimulando o intérprete a expressar-se oralmente na exploração de alternativas dramáticas para o conflito indicado. Este jogo de “diálogo com a consciência” mostra-se eficaz não apenas na intensificação da análise das afinidades entre atores e personagens, como também permite aos diretores investigarem a dramaturgia do filme como um todo, impulsionados pela aleatoriedade das conexões que a atividade deflagra. Este e outros jogos de improvisação serão analisados no estudo proposto. |
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Bibliografia | CHACRA, Sandra. Natureza e sentido da improvisação teatral. São Paulo: Perspectiva, 2007. |