ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | São Paulo: sinfonias, cacofonias, imaginários, tonalidades e ritmos |
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Autor | Thaís Itaboraí Vasconcelos |
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Resumo Expandido | A cidade de São Paulo já foi filmada por diversos ângulos e histórias. Nas primeiras décadas da sua cinematografia, pode-se observar uma tendência por parte dos cineastas em exaltar a capital paulista por sua industrialização e progresso. Nesse sentido, o teórico e crítico de cinema Ismail Xavier no artigo “São Paulo no Cinema: da coesão da cidade-máquina à corrosão da cidade-arquipélago” discorre sobre o modo como a cinematografia paulista das décadas de 1920 e 1930 ressalta a presença de uma forte vontade de progresso e um olhar para o avanço tecnológico como se fosse a solução de todos os problemas. Observa ainda que essa aspiração ao progresso era associada aos valores econômicos, mas havia um desejo de manutenção de padrões morais ligados “a um patriarcalismo assentado nas bases rurais e familiares da formação social brasileira” (XAVIER, 2006, p. 2). Ao pensar a cinematografia dos anos 1920, o filme São Paulo, a sinfonia da metrópole (1929) é emblemático para o imaginário paulistano de uma ideia de “cidade máquina” (LEZO, 2016). No filme se pode observar essa dualidade entre aspiração ao progresso e manutenção de uma moral conservadora. A sinfonia paulista dos anos 1920 se destacou na cinematografia nacional da época, por sua relação com o gênero sinfônico e em especial pela forte influência do filme Berlim, sinfonia da metrópole (1927) de Walter Ruttman, apesar dos diretores negarem na época terem assistido ao filme (GALVÃO, 1975, p. 333). O filme dialoga com as sinfonias urbanas, nas quais há forte valorização da modernidade com a presença de ícones como o bonde, telefone, relógios e engrenagens da indústria. Na sinfonia paulista, há destaque ainda para a força dos trabalhadores que “aparecem como as engrenagens da nova metrópole em seu crescimento imparável” (MENEGUELLO, 2018, p.253). Em São Paulo, a sinfonia da metrópole temos a representação de uma cidade que almeja o estatuto de grande metrópole e vê no trabalho, nas instituições e nas novas tecnologias da época a possibilidade de um futuro ainda mais glorioso. Já São Paulo - Sinfonia e Cacofonia (1994), dirigido por Jean-Claude Bernardet, percorre a história da cinematografia paulista e traz à tona olhares variados para o tema do progresso. No filme, a cidade é um lugar de encontros e desencontros, construção e desconstrução, personagens vagueiam pela cidade a procura de novos caminhos possíveis. O filme utiliza em sua constituição filmes rodados na capital paulista de múltiplas temporalidades e segue seus personagens por São Paulo numa trajetória por essas imagens. O diretor do filme e pesquisador Bernardet ao falar sobre o processo de concepção do filme no artigo “A subjetividade e as imagens alheias: ressignificação” discorre sobre como a dimensão pessoal está presente no filme, no qual as suas memórias e vivências da cidade em si e as suas memórias como espectador dos filmes se misturam (BERNARDET, 2021, p. 3). É possível pensar São Paulo - Sinfonia e Cacofonia (1994) em diálogo com o gênero da sinfonia urbana por alguns pontos: a cidade como tema principal, a estrutura narrativa do passar do dia, além da presença de temáticas e ícones caros ao gênero como imagens de multidão. Na sinfonia paulista dos anos 1920 o passar do dia é mais associado a um dia útil pela cidade, com o acordar, almoço e fim do expediente. No filme de Bernardet o dia começa e termina em um perambular pela cidade, tal como Nelson (Gabriele Tinti), o personagem de Noite Vazia (1964), que percorre a cidade noturna na busca de distração e de silenciar a sua sensação de solidão. Ao percorrer os dois filmes, e também de certa forma os quase cem filmes citados por Bernadet em Sinfonia e Cacofonia, é possível refletir sobre a representação da cidade de São Paulo em sua cinematografia e como os dois filmes, cada um a seu modo, abordam e colaboram com o imaginário da capital paulista. |
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Bibliografia | BERNARDET. Jean-Claude. A subjetividade e as imagens alheias: ressignificação. Revista Laika, v. 4, n. 7, 2021. |