ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | NEGATIVIDADE E HUMORISMO EM “BRÁS CUBAS”, DE JÚLIO BRESSANE |
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Autor | Raquel Cristina Ribeiro Pedroso |
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Resumo Expandido | Considerando que o longa “Brás Cubas” (1985), de Júlio Bressane, tenha sido realizado a partir de uma transcriação das “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado de Assis, percebe-se a presença de motivos que materializam-se como melancolia, humorismo, ironia, negatividade e tantos outros dados da natureza humana elencados por Machado e traduzidos em cena por Bressane em meio a uma poética própria de um cinema de autor. Assim, o presente trabalho propõe-se a promover um diálogo acerca das manifestações da melancolia, do humorismo e da composição poética da imagem elaborada por Júlio Bressane; debruçando-se sobre os três planos que correspondem a negatividade, interligados nos modos: ético, temático e expressional. Com efeito, a negatividade encontra certa medida em categorias da vida cotidiana, na qual a natureza humana está sujeita a movimentos de dissonância da moralidade frente ao olhar do outro. Nesse sentido, Antonio Candido (2006) traduz a negatividade como uma postura de negação aos modelos instituídos e concepções hegemônicas, manifestando-se como uma atitude de insubmissão diante dos postulados artísticos e morais da modernidade. Para o crítico, o modo ético evidencia-se quando o espectador percebe que a arte nega a moralidade convencional. Nota-se o temático quando a arte é articulada sobre imagens e motivos que são o contrário, ou o avesso, das expectativas consideradas usuais. E o modo expressional manifesta-se na negação da lógica comum e do discurso completo. Em Brás Cubas Bressane apega-se à materialidade da linguagem transcriada e ao processo de recriação possível ao cinema pelo jogo de espelhos, que não se apega a duração temporal, mas, ao processo de composição da montagem. Em Fotodrama (2005, p. 11), Bressane ressalta que é nesse processo que se: [...] desmascara a ilusão, mascarando outra ilusão, a do filme, que de fotograma a fotograma, grão a grão, em obsessão temporal infinita, nos acerca, com seus pontos de luz, de nosso corpo, deslocando-o”. A aparente desconexão entre as imagens ao longo do filme pode ser vista pelo ângulo do caótico ou do jocoso, assim como o fato de que desde as primeiras cenas o espectador encontra-se com um esqueleto, símbolo máximo da morte, na mesma unidade de recriação de uma música popular. Essa composição poética da imagem chama a atenção para o descompromisso com a coerência ou com o convencionalismo, dando sentido ao processo de negatividade e humorismo usados como estrutura de uma parte considerável da filmografia bressanina e, sobretudo, de Brás Cubas. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean Claude. Brás Cubas: reflexões sobre dois planos. Revista de Cinema, nº 34. Disponível em: http://imagemtempo.com.br/machadodeassis/artigo_jeanclaude.htm. Acesso em fevereiro de 2018. |