ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Super-Heroínas da Marvel:Gênero, Colonialidade e Retóricas Neoliberais |
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Autor | Letícia Moreira de Oliveira |
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Resumo Expandido | Desde Mulher Maravilha (2017, DC Films), a indústria blockbuster de super-heróis ensaia ampliar brechas às personagens femininas, esforço que acompanha uma tímida inserção de mulheres nas esferas de criação e pós-produção. Tal movimento dialoga com uma expansão de iniciativas que investigam as relações entre gênero, mulheres e cinema, dentro e fora das telas. No contexto do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), a estreia de Capitã Marvel (2019), primeiro filme com protagonismo feminino do estúdio, inaugura uma nova fase para as suas heroínas, dentre as quais a mais famosa só teve seu filme solo recentemente, o Viúva Negra (2021). Falar de super-heroísmos suscita pensar sobre um tipo de sujeito ou, em alguma instância, de uma humanidade que, por seu caráter “super”, estaria além do que seria seu contraponto inevitável - um “humano padrão”. Pressupõe-se, assim, uma hierarquização e classificação social dos corpos. Isso encentra no debate a discussão sobre quais corporalidades e subjetividades são autorizadas, nos enunciados fílmicos do mainstream globalizado, a representar esse status privilegiado em uma concepção de mundo diegético que reverbera as bases dos sistemas-modernos-coloniais-patriarcais. Quando María Lugones (2020) toma o gênero como categoria moderno-colonial, ela amplia e complexifica as dimensões políticas e econômicas que atravessam a representação dos corpos e suas performances. Banet-Weiser (2015) afirma que nas imagens midiáticas contemporâneas prevalece uma “economia de visibilidade” na qual o principal produto é o corpo feminino, abrindo pistas para observarmos como as elaborações discursivas nestes produtos parecem alinhar-se a uma tendência de enfraquecimento do teor político da representação. Nos universos Marvel, nota-se como as personagens tensionam padrões hegemônicos imbricados na colonialidade, como a domesticidade e separação de papéis sexuais, ao passo em que negociam com estruturas moderno-coloniais, como a noção de poder atrelada à lógica belicista, à branquitude, à heteronormatividade binarista, à racialização dos povos e aos espaços capitalistas, privilegiando uma noção de empoderamento individual filiada a uma sensibilidade neoliberal. É patente ainda o predomínio da violência, manipulação e dominação das personagens femininas em suas relações com personagens masculinos. Estes traços aparecem ainda como motor nas jornadas e subjetivações femininas. “Eu quero que você seja sua melhor versão”, frase repetida por um vilão à Capitã Marvel, carrega uma série de percepções atuais sobre “empoderamento feminino” e seus usos políticos e midiáticos. Parto dessa expressão rumo à tentativa de, com este trabalho, entender quais são as “melhores versões de si mesmas” encarnadas pelas super-heroínas. Proponho, portanto, uma discussão ancorada nas noções de Colonialidade de Gênero (Lugones, 2020), de representação (hooks, 2019), e nos trabalhos sobre feminismos neoliberais (Fraser, 2016) e sobre as Economias de Visibilidade (Banet-Weiser, 2015) para analisar traços da construção das super-heroínas em filmes recentes do UCM com mulheres protagonistas, sendo eles Homem Formiga e a Vespa (2018); Capitã Marvel (2019) e Viúva Negra (2021), notando como e em quais dimensões a retórica neoliberal e a colonialidade atravessam o gênero nos discursos fílmicos. Proponho uma metodologia híbrida que une perspectivas e ferramentas dos estudos feministas do cinema, em especial as análises de representação, e alguns conceitos mobilizados nos feminismos decoloniais, de modo a abrir horizontes e perspectivas feministas pluriversais. Como hipóteses iniciais, penso que esses produtos tensionam representações normativas de grupos minoritários em negociação direta com as noções de “visibilidade” e “empoderamento” mas sem desestabilizar, propriamente, as bases do sistema capitalista e colonial que justamente concebe e mantém as opressões. Tendo em conta a evidente amplitude das questões, as discussões não serão esgotadas. |
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Bibliografia | BANET-WEISER, Sarah. Keynote address: media, markets, gender: economies of visibility in a neoliberal moment. The Communication Review, Charlottesville, v. 18, n. 1, p. 53-70, 2015. |