ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Filmes de viagem e o olhar estrangeiro |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Em um quadro de produção e recepção de imagens em movimento do primeiro cinema, uma forma recorrente tornou-se bastante popular: os filmes de viagem ou também chamados de travelogues. Sua ampla difusão, sobretudo em centros europeus e norte-americanos, deveu-se tanto aos exibidores, que tinham grande interesse pela sua programação em salas, como pelo grande interesse de um público urbano por paisagens desconhecidas e representações de lugares mais distantes (Musser, 1990). Os filmes de viagem estavam inseridos nas tradições das narrativas literárias de viagem. Estas, por sua vez, tiveram grande impulso com o trabalho efetivado pelos viajantes naturalistas. Vindo de várias partes da Europa e ligados a vários ramos do conhecimento que se produzia nos séculos XVIII e no século XIX, tais viajantes foram responsáveis, em lugares de franco domínio colonizador europeu, em criar representações literárias, coletar registros de um novo mundo e representar pela forma pictórica os espaços, os hábitos, as pessoas e um mundo natural que em nada tinha a ver com o que as populações urbanas do hemisfério norte conheciam. Ao longo do século XIX, já com o uso de tecnologias de representação fotográfica, as narrativas de viagem aproximaram-se de práticas de representação mais espetacularizadas, já sendo comum o uso de imagens de lugares distantes em palestras ilustradas direcionadas a um público urbano que, de modo geral, poucas chances teria de conhecer territórios tão distantes. A aparição do registro de imagens em movimento permitiu, dentro dessa tradição, não só uma nova forma de explorar e exibir um universo desconhecido de hábitos, de gente e de espacialidades demarcadas, mas uma nova forma de pensar, conceber, representar e imaginar – e mesmo disciplinar e governar – o outro e o seu território. No período das experiências do primeiro cinema, o mundo distante tornou-se também um interesse mercantil no emergente mercado de exibições que se formava. Viajantes-cinegrafistas europeus e norte-americanos produziram registros, sob a forma de filmes de viagens, que correspondiam também a uma forma de apropriação do mundo alheio (Gunning, 1995), num tipo de experiência que remete a olhares diretamente ligados à assimetria colonizador-colonizado. Esta comunicação mobiliza as filmagens de viajantes-cinegrafistas estrangeiros, dentro do contexto mais imediato das experiências do primeiro cinema em territórios resultantes da colonização ou ainda colonizados, para discutir as formas de apropriação, disciplinarização e construção imaginária sobre o outro. Para promover essa discussão, este trabalho pretende percorrer os filmes de viagens e suas práticas subjacentes diretamente ligados e produzidos dentro dessa temática, vindos, em especial, de duas companhias que surgiram em torno de duas grandes figuras do primeiro cinema: Charles Urban e Burton Holmes. Estimulado pelas ideias de Edward Said, de Orientalismo (1978), parte-se da seguinte premissa para essa investigação: só é possível compreender a maneira com que europeus e norte-americanos construíram um olhar sistemático e disciplinado para manejar saberes e controlar e produzir um mundo distante, resultado da colonização, se compreendermos como seus próprios discursos comportam e estabelecem um visão distintamente ontológica, racial e epistemológica entre o que eles supõe ser e o que nós somos para eles. |
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Bibliografia | BARBER, X.Theodore. The Roots of Travel Cinema: John L.Stoddard, E.Burton Holmes and the Nineteenth-Century Illustrated Travel Lecture. Film History, n. 5, v.1, p. 68–84, 1993. |