ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Videoperformance e arte de instruções: dispositivos de criação |
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Autor | Carla Miguelote |
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Resumo Expandido | O presente trabalho investiga as relações entre videoperformance e arte de instruções. Buscamos, inicialmente, uma aproximação entre a chamada arte de instruções e o que Eleonora Fabião (2013) chama de “programa performativo”. Em ambos os casos, parte-se de um texto injuntivo, que, à maneira das receitas culinárias ou dos manuais de instrução, tem como objetivo levar o leitor à ação. Ambas as noções remetem, por sua vez, à ideia de partitura, que como lembra Belén Gache (2013), implica sempre um duplo estatuto: programa-execução. Na arte de instruções, em vez de realizar a obra, o artista, servindo-se de um texto breve, dá uma instrução para que o público a faça. A instrução abre-se sempre a diversas possibilidades de interpretação e execução. Nesse sentido, a arte de instruções questiona a um só tempo as noções de genialidade do artista e de autoria, originalidade e unicidade da obra de arte. Em sua história da arte da performance, RoseLee Goldberg observa que, durante a década de 1960, algumas ações conceituais consistiam em “performances potenciais”, que eram tão importantes quanto as “performances reais” (GOLDBERG, 2016, p. 147). O que ela chama de performance potencial coincidiria, de certa maneira, com o que se tem chamado de arte de instruções. Um artista propõe certo roteiro de ações, que podem ou não ser executadas. Embora Goldberg não mencione Grapefruit: o livro de instruções e desenhos (1964), de Yoko Ono, esse nos parece central para o que propomos discutir aqui. Nele, Yoko Ono propõe breves instruções para criar peças musicais, pinturas, poemas, eventos, danças, etc. Uma das ações propostas por Yoko Ono, talvez a de simplicidade mais pungente, fora tomada como “roteiro” para a realização de um filme pela própria artista. Trata-se de “Peça para iluminar”: “Acenda um fósforo e observe até que se apague”. No filme One (1966), vemos, em slow motion, um fósforo que se acende e queima durante quase cinco minutos, até se apagar completamente. Trata-se, nesse caso, como em muitas instruções de artistas, de propor a realização de ações simples, corriqueiras. Há geralmente, portanto, na arte de instruções, uma proposta de aproximação entre arte e vida, que visa sacudir os automatismos do cotidiano. Na arte contemporânea, observa-se a aproximação entre arte de instruções e programa performativo em artistas e coletivos diversos, de Sophie Calle – notadamente com a colaboração de Paul Auster em suas “Instruções pessoais para Sophie Calle a fim de melhorar avida em Nova York (porque ela pediu)” – a Marina Abramovic (em The forest, In between e Dream House) passando, no Brasil, pelos trabalhos de Cao Guimarães (em Histórias do não ver) e do Coletivo Teatro Dodecafônico (em “Mover(se): 7 peças para deslocar-se de dentro para fora”, realizado para a Bienal Sesc de Dança 2021, por exemplo), dentro outros. O que está em jogo nesses trabalhos é a invenção de protocolos de experiência, que se apresentam como resistência ao modo capitalista de usarmos o tempo e a vida cotidiana, cuja pobreza já fora anunciada por Guy Debord há mais de cinquenta anos. Tendo como referência os trabalhos artísticos acima mencionados e considerando que a pandemia de covid-19 e as decorrentes medidas de isolamento social agravaram o enrijecimento da rotina, o Projeto de Cultura “Criação audiovisual e diversidade: narrativas de si e do outro”, cadastrado desde 2016 na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UNIRIO e coordenado pela professora Carla Miguelote, desenvolveu o processo de experimentação artística “Prove y Prove: 6 pessoas, 6 instruções, 36 videoperformances”. Proveyprove fora desenvolvido por um coletivo de seis artistas, em que cada integrante criou uma instrução simples, para ser realizada como videoperformance por todos da equipe. Nesse trabalho, pensamos a instrução para videoperformance não como roteiro a ser filmado, mas como “motor da experimentação” (DELEUZE; GUATTARI apud FABIÃO, 2013, p. 4) a ser vivida em confronto com a câmera. |
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Bibliografia | ALTSHULER, Bruce. Art by instruction and the Pre-History of do it. Disponível em: http://projects.e-flux.com/do_it/notes/notes.html |