ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | O faux raccord na história da montagem cinematográfica |
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Autor | Mayara Fior Oliveira |
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Resumo Expandido | Sabe-se que o faux raccord existe desde os primórdios do cinema, desde Méliès com suas trucagens, às justaposições de Eisenstein ou à montagem construtiva de Pudovkin, além de estar presente de diversas maneiras nas vanguardas dos anos 1920. Entretanto, ganhou considerável força política e ideológica na década de 1960, sendo comentado por críticos e teóricos nas vanguardas sessentistas, Nouvelle Vague e os cinemas novos, aparecendo sobretudo na forma do jump cut. Foi nesse período que o faux raccord ganhou mais destaque, com o papel de choque, de denúncia do aparato, de disjunção e quebra da narrativa clássica/raccord clássico. Entretanto, de tempos para cá esse elemento da montagem foi absorvido pelas mídias como um todo, sendo incorporado nos filmes contemporâneos, videoclipes, novelas, seriados e comerciais. Hoje já não provoca efeito de choque e surpresa tão forte, uma vez que foi assimilado pelos espectadores. Então, qual seria seu papel na construção narrativa atualmente? Existe uma forte tendência de associar o faux raccord e o jump cut com a Nouvelle Vague e Godard, muitas vezes atribuindo seu surgimento a esse movimento, como verificamos em diversas literaturas e meios de comunicação. O que é de fato uma enorme falácia. É possível que haja tal equívoco pois foi por volta desse período que pela primeira vez ambos os termos apareceram em textos críticos, embora o corte em si já existisse há tempos. “Alguns críticos até chamaram essas disjunções de jump cuts. (O primeiro uso do termo na imprensa para ser o review sobre ”Acossado" na Variety's 1960).” (BORDWELL, 1984, p. 10, tradução nossa). Apesar disso, em análise histórica minuciosa Bordwell identifica a existência desse tipo de corte em períodos anteriores. Ademais, o fato de não haver um termo específico para designar esses cortes, não significa que eles não existissem ou que agora não possam ser identificados como tal. Temos que ter em conta que o surgimento de um termo não está atrelado ao surgimento do elemento, mesmo porque as nomenclaturas surgem das análises, que são sempre posteriores à prática. A história revela uma pluralidade de motivações e usos para o faux raccord, que surge em decorrência de limitações tecnológicas e já é adotado como elemento narrativo, posteriormente sendo usado extensivamente como elemento discursivo, e ressurgindo como elemento disruptivo na Nouvelle Vague. O mundo estava aberto para renovações e quebras; todo contexto político, social, cultural e estético era propício para adoção de elementos novos ou elementos disruptivos, que foram deixados de lado por tempos. Não foi a Nouvelle Vague que inventou o faux raccord, mas foi ela que estava no lugar certo e no momento certo para colocá-lo em evidência e difundir novas estéticas para o mundo. “O caminho foi pavimentado por ‘Acossado’: agora, como outras técnicas, jump cuts podem ser feitos para serem vistos, para serem lidos por telespectadores e críticos de maneira codificável.” (BORDWELL, 1984, p. 9, tradução nossa). Embora hoje o faux raccord não pareça ao público um elemento tão disruptivo, foi protagonista junto a esses movimentos de vanguarda numa revolução da linguagem cinematográfica, exercendo forte papel político na época. Em certos períodos o uso desse tipo de montagem representou uma resistência ao cinema clássico e sua produção industrial. Durante muito tempo, a montagem descontínua esteve presente majoritariamente em filmes com estética antitética em relação ao cinema clássico, fazendo-se uso ostensivo e deliberado da descontinuidade. Entretanto, com o passar do tempo, essas técnicas deixaram de ser exclusividade de um cinema mais experimental e passaram a agregar filmes e produções audiovisuais mais populares e comerciais. Essa nova estética e esses novos elementos de montagem caracterizam o cinema moderno e influenciaram enormemente as produções que se seguiram, culminando numa nova estética do cinema contemporâneo, que ainda vem se construindo. |
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Bibliografia | BURCH, Noël. Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 1973. |