ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Narrativas audiovisuais sobre a criação de espetáculos de dança |
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Autor | Sofia Franco Guilherme |
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Resumo Expandido | O registro audiovisual dos processos de criação dos espetáculos de dança contemporânea tem potencial de revelar as buscas conceituais das companhias e suas perspectivas teóricas e práticas sobre a produção dessa forma de expressão artística. A análise narrativa da série de vídeos “Espetáculo 2015”, publicados no canal oficial do Grupo Corpo no YouTube, entre fevereiro e outubro de 2015, durante a comemoração dos 40 anos da companhia, nos permite considerar como ela pode contar suas próprias histórias e mostrar seus processos de criação por meio de produções originais para as mídias digitais. A série de vídeos constrói uma narrativa verbal, guiada pelas entrevistas, e uma narrativa visual, articulada pelas filmagens no local de trabalho da companhia e no acompanhamento de cada etapa do trabalho. Essas duas camadas narrativas estão inter-relacionadas, porém a imagem não é meramente ilustrativa e redundante em relação ao que é falado nas entrevistas, ela abre novas chaves interpretativas para o espectador. Os vídeos da companhia se aproximam do gênero documentário. Esta forma de produção também se baseia no discurso referencial, ancorado no mundo histórico, porém tem a tradição de explorar criativamente, na montagem, por exemplo, os temas abordados. Os produtos audiovisuais não-ficcionais de uma forma geral “são construtos, artefatos fabricados pelas mãos e pelos olhos daqueles que empunharam o instrumento de registro chamado ‘câmera cinematográfica’ ou ‘videográfica’” (FREIRE; SOARES, 2013, p. 78). Para compreendermos as estratégias de construção narrativa das obras analisadas, recorremos ao conceito de “voz do documentário” de Bill Nichols como “aquilo que no texto nos transmite o ponto de vista social, a maneira como ele nos fala e como organiza o material que nos apresenta” (NICHOLS, 2005, p. 50). Nos vídeos da lista de reprodução, identificamos características do cinema direto, que promete maior transparência e imediatismo, sem interferências nas filmagens. Os objetos audiovisuais escolhidos para este estudo também podem ser entendidos como “documentários do processo de criação” (SALLES, 2010, p.186) que acompanham os ensaios e camadas do processo sem interferir na criação e conceitos que estão intrínsecos no processo do grupo. Os trabalhos do Grupo Corpo têm como ponto de partida a música. Este ponto do processo criativo da companhia é reforçado na própria organização da série de vídeos publicada no canal oficial do YouTube, pois os cinco primeiros vídeos trazem a composição das trilhas sonoras como protagonistas. A relação do grupo com seu local de origem se torna bastante explícita no primeiro vídeo da série. Em uma rara entrevista do coreógrafo Rodrigo Pederneiras, ele reitera o fato do Grupo Corpo ter sede em Minas Gerais e convidar músicos mineiros para colaborar neste espetáculo de comemoração de 40 anos da companhia. Em sua fala ele revela a estreita relação que sua produção tem com o espaço físico e cultural que ocupam em Belo Horizonte e no cenário da dança nacional. Durante os vídeos do YouTube sobre a montagem da coreografia, Rodrigo Pederneiras, coreógrafo residente do grupo, é protagonista à medida que transmite suas ideias de movimentação para os bailarinos, demonstrando pouco e sempre contando com a ajuda da assistente de coreografia e dos próprios bailarinos para testar os passos. Paulo Pederneiras, diretor artístico, toma o protagonismo parte do final do processo de criação. Ele é mostrado no comando desde o conceito, teste de materiais escolhidos para a cenografia, maquiagem dos bailarinos e figurinos, até a montagem do espaço do espetáculo Os vídeos do YouTube vão além dos ensaios e montagem de cenário e figurino. Eles acompanham os bastidores do processo de distribuição e divulgação do produto artístico até sua chegada ao público, representada no registro das estreias em Belo Horizonte, casa da companhia, São Paulo e Rio de Janeiro nos vídeos finais da série. |
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Bibliografia | CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2012. |