ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Poéticas e estéticas decoloniais em videoclipes latino-americanos |
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Autor | Geisa Rodrigues |
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Resumo Expandido | Este trabalho busca investigar videoclipes latino-americanos produzidos a partir da segunda década do século XXI que configuram experiências de criação poéticas e estéticas decoloniais com potencial transformador. Para exemplificar alguns dos materiais a serem analisados, trabalhos como o videoclipe brasileiro “Africaniei”,( Majur 2018), o videoclipe convocatório para a Huelga feminista de 2021( Coordinadora Feminista 8M, Chile, 2021), e o videoclipe colombiano “Eso que tu haces” (Lido Pimienta, 2020) compõem o corpus de investigação. Tais obras expõem encontros e fusões em performances que envolvem corpos em cena evidenciados em sua textura e contrastes e que, se tocam, dançam, se pintam, se unem em caminhada, . As estratégias de ocupação destes corpos se dão por meio do uso de diferentes referências estéticas, que circulam da videoarte à linguagem do videoclipe e da propaganda, e às performances caseiras, numa espécie de profanação multifatorial de referências, trabalhando, dessa forma, numa fronteira entre linguagens e experiências que se fundem e se chocam ao mesmo tempo. Maria Lugones, em sua proposta de um pensamento marginal e feminismo decolonial, se baseia no exemplo da leitura de Walter Mignolo sobre a obra de Glória Anzaldúa, sugerindo que uma chave para descolonizar o poder seria buscarmos lócus fraturados de resistência, , “ onde a liminaridade da fronteira é um solo, um espaço, uma fronteira, para usar o temo de Gloria Anzaldúa, não apenas uma fenda, não uma repetição infinita de hierarquias dicotômicas entre espectros do humano desalmados” (LUGONES, 2014, p. 947). A mistura de referências, afetos e corpos nesses materiais visa carregar o espectador para a dimensão de um “lócus fraturado” que ao mesmo tempo desafia sistemas de representação (HALL, 2016) cristalizados. Estas experiências flertam também com o conceito de Amefricanidade, de Lélia Gonzalez, com vistas a unir os povos advindos da África e habitando as américas, para romper com a supremacia do pensamento branco e a ideia de uma superioridade europeia, ou melhor, um ponto de vista europeu, a partir do qual nossas nações (latino-americanas) teriam nascido, ainda que com o toque “apimentado e mestiço” de uma pretensa “democracia racial”, tese duramente criticada por Gonzalez. A amefricanidade pressupõe uma lógica de libertação e combate aos efeitos do imperialismo centrada na voz e na percepção dos oprimidos e não nos opressores. Entendendo que não se faz revolução de “fora pra dentro”, Gonzalez valoriza também saberes muitas vezes relegados a uma inferioridade, como a música, a ginga, a oralidade e os afetos advindos de África. Propõe refutar a exotização e a mitificação da experiência africana e indígena, que acaba distanciando descendentes de sua ancestralidade e amenizando a violência da experiência da escravidão. Partindo desses pressupostos, interpretamos a comunhão de personagens e performances de raças, povos, gêneros, estéticas e vivências periféricas nos vídeos em questão, em sua potência de criar conexões reforçadas, como pontes para uma cosmovisão de atuação política, em oposição a forças opressoras de matriz colonial. Tais experiências refletem efeitos também dos movimentos políticos contemporâneos que eclodiram a partir de 2011, em sua articulação com os espaços de reivindicação que se formaram nas redes e nas ruas. Judith Butler (2017) retoma o tema da performatividade de gênero e da representação ao considerar as articulações políticas e as reivindicações feitas em nome do gênero e do sexo atos performativos nas manifestações de rua contemporâneas (2017, p. 64). Trata-se, também, de uma forma de agir contra a precariedade que envolve os que não têm direitos. Neste sentido, nos vídeos em questão a própria vulnerabilidade colocada em cena pode fazer eclodir ressignificações e rupturas para as minorias sociais evidenciadas em sua potência criadora e transgressora. |
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Bibliografia | BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: Notas sobre uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. |