ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Caminhadas Coletivas: Cidade e coreopolítica em Temporada (2018) |
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Autor | Samuel Alves Moreira Brasileiro |
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Resumo Expandido | A presente comunicação se propõe em analisar a construção da cidade no filme “Temporada” (2018), dirigido por André Novais Oliveira, a partir das caminhadas coletivas realizadas pelos personagens pelas ruas de Contagem ao longo do filme. O trabalho surge da dissertação de mestrado “Não se filme o mesmo quintal duas vezes: Abordagens Espaciais nos Filmes de André Novais Oliveira”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. A análise do filme partiu do desenvolvimento de um vídeo-ensaio intitulado “Caminhadas Coletivas”. As relações entre o cinema e a cidade apontam desde as primeiras imagens produzidas pelo cinematógrafo. A aceleração do movimento dos centros urbanos propunha experiências estéticas similares às imagens em movimento. Jean-Louis Comolli (2015, p. 188, tradução nossa) ao analisar os filmes dos Irmãos Lumière propõe pensarmos em uma ideia de “cidade-tempo”. A cidade se constituiria pela movimentação de entradas de quadro com a caminhada dos transeuntes. Além disso, os filmes como “Berlim: Sinfonia de uma cidade grande” (1927, dir. Walter Ruttmann), “São Paulo Sinfonia de uma Metrópole” (1929, dir. Rudolf Rex Lustig e Adalberto Kemeny) e “A propósito de Nice” (1930, dir. Jean Vigo), conhecidos como sinfonia das cidades, também se tornam importantes marcas da relação com o cinema e o movimento a partir de uma forma sinfônica de observar o cotidiano (FLORES, GUIMARÃES, 2020). Em “Temporada”, a cidade se revela não apenas pelas paisagens urbanas enquadradas, mas também pelas caminhadas realizadas por Juliana, Russão, Hélio e os outros colegas durante os turnos de trabalho. Ao se propor em falar sobre a vida dos funcionários de uma repartição pública responsável pelo controle de endemias, Novais Oliveira proporciona uma conexão entre o cotidiano da rua e do trabalho, que surge nos passos dos personagens à medida que pedem licença para entrar na casa dos moradores. O conceito de caminhada é trabalho por autores como Francesco Careri (2002) e Irene Depetris Chauvin (2019) como uma prática estética – seja em um pensamento urbanístico ou como construção de uma geografia afetiva no cinema. Como nos diz Chauvin (2019, p. 141, tradução nossa)“Ao considerar o “caminhar” como o começo da arquitetura, Careri propõe outra história do “habitar”, que não são os assentamentos, as cidades e os edifícios senão melhor, aquela dos movimentos, dos deslocamentos e dos fluxos”. A caminhada coletiva de trabalhadores nos remete também a outras imagens do cinema na figuração do trabalho. Para a análise do filme, remete-se também aos filmes “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière” (1895) e “Como Era Verde o Nosso Vale” (1941) nos quais, respectivamente, os trabalhadores encerram o dia trabalho e descem uma ladeira caminhando coletivamente de volta para casa. Quando comparado com “Temporada”, percebemos que o ato de caminhar durante o trabalho não o reforça e nem o romantiza, mas coloca os personagens em tensão na experiência estética da cidade. Por isso, aproximamos o conceito da caminhada com a coreopolítica (LEPECKI, 2012). André Lepecki em seu texto “Coreopolítica e Corepolícia” propõe um olhar para a coreografia urbana pela ótica da política e da política articuladas por Jacques Ranicière (2018). A polícia seria a estrutura responsável por agenciar e controlar os corpos já a política constituiria um pensamento de dissenso diante do que está posto. Assim, a coreopolítica (LEPCKI, 2012, p. 49) propõe novos chãos, novas formas de andar e se movimentar. A partir das cenas de “Temporada” em que os personagens caminham coletivamente propomos que o filme constitui uma prática estética e um território (ZAN, 2020; SODRÉ, 2002) ao proporcionar uma coreopolítica dos trajetos. O filme não reafirma os trajetos e nem a cidade, mas cria nele mesmo uma Contagem que existe os movimentos dos trabalhadores. |
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Bibliografia | CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2002 |