ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Ousadias Femininas: o Cinema de Alice Guy |
|
Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
|
Resumo Expandido | Inicialmente secretária do Comptoir général de la photographie em 1894, Alice Guy (1873-1968) assistiu às primeiras projeções dos irmãos Lumière em 1895, em companhia do seu chefe Léon Gaumont. Em 1902, é designada supervisora de produção das vistas animadas. Em cinco anos, realizará mais de duzentos curtas-metragens, dos quais uma centena de fonocenas, os primeiros filmes sonoros sincronizando um filme mudo a um aparelho chamado cronofone, considerados os primeiros clips da história do cinema. Em 1907, viaja para os Estados Unidos com seu marido Herbert Blaché e funda seu próprio estúdio Solax, o maior antes de Hollywood. Em geral, exerceu as atividades de roteirista, diretora, chefe de produção, fazendo uso de efeitos especiais, split screen, uso da cor. Na entrada de sua sala no estúdio, o anúncio “Seja Natural” servira de orientação para o trabalho de interpretação. Em vinte e quatro anos, desfrutou de muito sucesso, à frente de mais de mil filmes, dos quais restam apenas trezentos e cinquenta, sendo vinte e dois longas-metragens. Entre seus títulos, há Um Louco e seu Dinheiro (A Fool and his Money, 1912) integrando o conjunto dos então chamados race movies com elenco inteiramente negro. Sua obra envolve vários gêneros cinematográficos tais como comédia, drama, inclusive ficção científica. No presente estudo, propomo-nos a analisar as figuras femininas, adultas e crianças, cujo protagonismo é digno de nota. Desde A Fada do Repolho (La Fée aux Choux, 1896) até A Órfã do Oceano ( Ocean Waif, 1916), passando por As Consequências do Feminismo (Les Résultats du Féminisme, 1906), Desejos de Madame (Madame a des Envies, 1907), Uma Heroína de Quatro Anos (Une Héroine de Quatre Ans,1907), Começando Algo (Starting Something, 1911), O Cair das Folhas (Falling Leaves, 1912), A Garota na Poltrona (The Girl in the Armchair,1912), Uma Casa Dividida (A House Divided,1913) e Casamento às Pressas (Matrimony´s Speed Limit, 1916), observa-se a criação de personagens femininas incríveis por vezes capazes de enfrentar desafios os mais difíceis. Entre estes, há a “heroína de quatro anos” ao se deparar com os mais variados perigos tal como assalto e iminência de atropelamento, em passeio durante o qual a babá adormece sentada em banco de praça. Acrescente-se a isso a morte iminente da irmã doente em O Cair das Folhas, cuja iniciativa desesperada e inusitada da jovem Trixie termina por a salvar, graças ao conhecimento de médico especialista. Se em A Fada do Repolho a magia e o fantástico têm lugar, graças à presença dessa protagonista, responsável pela concepção de bebês em repolhos; em Desejos de Senhora, eis a vez da comédia com a protagonista cuja condição de grávida lhe permite realizar uma série de peripécias como, por exemplo, furtar doce, bebida alcoólica, comida e cachimbo. As Consequências do Feminismo e Começando Algo ensejam igualmente o riso, mas neles o tema da inversão de papéis entre homens e de mulheres e da sufragista, respectivamente, ganham ares de seriedade, suscitando uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, desde os afazeres domésticos até a função de presidente. Se A Garota na Poltrona e A Órfã do Oceano manifestam o tema da conquista amorosa, em A Órfã a ação se complica à medida que abarca um trio. Por sua vez, Uma Casa Dividida e Casamento às Pressas envolvem relações entre casais cujo deslanchar de problemas requerem soluções improváveis. Face aos temas abordados, de modo a valorizar as personagens femininas, todas dotadas de iniciativa e de vida própria, cabe reconhecer os preâmbulos do female gaze na obra cinematográfica de Alice Guy. Eis o caso de repertoriar e conferir um conjunto de imagens criadas em sua produção, indo além do reparo historiográfico ainda tão necessário quanto às profissionais da sétima arte. Sob essa perspectiva, @naeradofemalegaze no Instagram busca oferecer uma seleção de imagens, fruto de estudos do Cinema Francês e do Feminismo. |
|
Bibliografia | ACKER, A. Reel Women – Pioneers of the Cinema, 1896 to the present, New York: Continnum Company, 1991. |