ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Considerações iniciais sobre a fala cinematográfica contemporânea |
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Autor | debora regina opolski |
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Resumo Expandido | A fala como elemento cinematográfico é estudada por diversos autores. Um dos mais citados, Michel Chion (1994), escreve sobre o vococentrismo e o verbocentrismo do cinema narrativo de ficção, afirmando que a voz guia os olhos do espectador. Sarah Kozloff (2000) e Jeff Jaeckle (2013), adicionam para a discussão a questão da sonoridade da voz, incluindo a materialidade do som como elemento estilísticamente importante para o discurso. Aqui, nos interessa pensar na fala não apenas como um elemento fundamental da cinematografia narrativa de ficção, no sentido proposto por Chion, de que a voz guia os olhos do espectador, mas também, no sentido de que, como elemento cinematográfico, a fala pode ser a ação. Ou seja, a ação pode ser a palavra falada. Em artigo anterior (OPOLSKI, 2020), argumentamos que uma fala pode ser a propulsora de uma ação quando se apresenta como ato da fala, termo cunhado por Austin (1962). O autor afirma que as palavras têm o poder de modificar o mundo, de ser ação, de agir. Um dos exemplos mais utilizados por quem estuda a teoria dos atos da fala é a frase "você está preso!", que é pronunciada envolta com o poder de privar determinada pessoa da liberdade. Kozloff (2000), nomeia um dos capítulos do seu livro da seguinte forma: "Palavras como armas: Diálogos em filmes Gangsters". Filmes deste estilo usam a palavra, em conjunto com cenas de ação, tiroteios e afins, para retratar a violência na cinematografia. Sendo em conjunto com imagens, ou de forma isolada, parece ser impossível negar a força que as palavras possuem em um discurso, principalmente aquelas emitidas de forma agressiva, pois elas, de fato, podem provocar dor. Partindo de outro viés de pesquisa, Alexandre Garcia (2022), apresenta o conceito de filmes de conversação, que são filmes sobre conversa, nos quais a conversa é a ação. Para o autor, esses filmes são ficcionais, são feitos por equipes pequenas e possuem bastante diálogo, ou melhor são constituídos pelas conversas prosaicas. São as conversas que estruturam a mise en scène e a encenação. Nesse caso, não estamos falando de atos de fala, mas sim, de conversas prosaicas, cotidianas, talvez banais. A partir do exposto, nesta comunicação, utilizamos as ideias discutidas por Garcia (2022) e o conceito de filmes de conversação, cunhado por ele, para iniciarmos considerações sobre um cinema brasileiro contemporâneo que tem a fala prosaica como elemento sonoro propulsor da cena e das ações da mise en scène. Elencamos, em um primeiro momento, filmes como Viajo porque preciso, volto porque te amo, dos diretores Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, de 2010 e Me sinto bem com você, do diretor Matheus Souza, de 2022. O primeiro, para refletir sobre as vozes de narração, as vozes não corporizadas (PAULETTO, 2012). O segundo para tratar da conversa entre personagens corporificados (PAULETTO, 2012), com vozes duplamente mediatizadas (ZUMTHOR, 1983), vozes cinematográficas, mediatizadas mais uma vez pelos equipamentos de comunicação da mise en scène. Esses dois filmes serão base para o início das discussões sobre a materialidade da sonoridade da fala cinematográfica brasileira contemporânea, com o objetivo de compreender de que forma eles utilizam a fala como elemento cinematográfico que estrutura a mise en scène. |
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Bibliografia | AUSTIN, John L. How to Do Things with Words. Londres: Oxford University Press, 1962. |