ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Imagens do operário em dois tempos de cinema brasileiro |
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Autor | MAURICIO VASSALI |
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Resumo Expandido | A virada das décadas de 1970 para 1980 foi um momento de grande transformação na realidade do operariado brasileiro. Mesmo que em um processo de abertura política, o país ainda estava sob um regime militar quando aconteceram as grandes greves de trabalhadores, entre as quais aquelas do ABC paulista tiveram maior destaque. A reinvindicação por melhorias salariais e condições de trabalho impulsionaram o movimento operário naquele período, contudo a ação de trabalhadores e sindicatos teve papel fundamental na transformação política pela qual o país passaria durante os anos 1980 e que reverbera na atualidade. No cenário mais próximo do presente deste trabalho, o que se percebe é a condição de um operário desassistido, individualizado e cada vez mais refém de práticas que o precarizam. Desde o governo de Fernando Collor, o Brasil acompanha uma prática de políticas econômicas neoliberais em crescimento a níveis globais. Nos anos que se sucederam ao golpe de 2016, reformas profundas na legislação modificaram a realidade trabalhista e previdenciária da classe trabalhadora. Autores como Ricardo Antunes (2015; 2020) observam as irrefreáveis metamorfoses no mundo do trabalho ao longo dos anos recentes. O cinema brasileiro acompanhou de perto tais cenários ao abordá-los em narrativas ficcionais e em documentários. Um considerável número de filmes nos quais o operário tem protagonismo é percebido na produção cinematográfica brasileira entre os anos de 1978-1983 e 2015-2020. Neste trabalho, levam-se em conta filmes brasileiros protagonizados por operários (em especial aqueles ligados ao trabalho fabril), entre curtas e longas-metragens, produzidos nos momentos históricos antes mencionados. O que se apresenta aqui são percepções parciais de uma pesquisa de doutorado ainda em andamento. Com o objetivo principal de localizar e compreender como as imagens do operário sobrevivem e se atualizam no cinema brasileiro, a partir dos dois momentos históricos antes citados, foi pré-selecionado um total de dezesseis filmes. Deles, foram recortadas imagens nas quais fatos, gestos, elementos e/ou espaços se repetiam entre as obras selecionadas. A partir dessas recorrências, as imagens foram agrupadas em categorias. Tal processo deu origem às montagens nas quais os dois tempos históricos abordados na pesquisa coexistem. Tal possibilidade se dá justamente pela afinidade entre as imagens, mesmo que pertencentes a tempos distintos. Reunidas, elas se conectam pela repetição e, da mesma forma que se aproximam pela semelhança, estas mesmas imagens entram em choque temporal, fazendo com que algo “novo” surja a partir daí. O conceito de imagem dialética elaborado por Walter Benjamin (2009) fundamenta tal processo de desmontagem e montagem, assim como o de imagem sobrevivente de acordo com Georges Didi-Huberman (2011; 2013). A duração presente em tais imagens, além da a cristalização do tempo a partir do choque entre elas, são mais bem compreendidas à luz de Henri Bergson (2006; 2010) e Gilles Deleuze (2012; 2018). A percepção de diferenças e repetições entre as imagens foi possível a partir de categorias que auxiliaram no processo de montagem. Tais categorias foram reunidas em três linhas de tendências que sistematizam o processo de análise de imagens na pesquisa. São elas: I) os espaços onde o operário exerce seu trabalho, como a fábrica e a construção civil; a relação do corpo com estes mesmos espaços, as máquinas e ferramentas das quais faz uso; II) o trabalhador em conflito com instâncias superiores, a movimentação coletiva e as lideranças; III) os personagens fora de seus espaços de trabalho, em momentos íntimos, de lazer e/ou de descanso. Pretende-se, na ocasião da apresentação deste trabalho, exibir algumas das montagens e leituras possíveis a partir delas. |
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Bibliografia | ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2015. |